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O CAJUEIRO
Carlos de Almeida



Um certo dia do mês de maio, de um certo ano, alguns minutos faltavam para as doze horas.   Chovia muito.   A cidade era Pirilampo do Sul, interior de Minas Gerais, região Sudeste do Brasil.
Havia uma pracinha muito antiga, tanto quanto a sua cidade e a sua historia. Nesta praça, um formoso e elegante cajueiro, formava uma bela e refrescante sombra.
A chuva estava forte, trovejava e relampejava muito.
Nesta hora, já esbarrando nas doze, despencou um forte raio do céu!
O escolhido para recepcionar a grande força da natureza, foi justamente o belo e formoso pé de caju. Interessante; mesmo sendo um grande raio, não causou nenhum dano à árvore! Toda a cidade estava com medo e não era pra menos, dentro de suas casas, ninguém se atrevia a sair.

No dia seguinte logo nas primeiras horas da manhã, o sol se pôs radiante, tratando de evaporar toda aquela água do dia anterior. Roberto, um adolescente de quinze anos, estudava em uma escola perto da pracinha. Estudante aplicado, mantinha um grande interesse pela literatura. Todos os dias de aulas, sentava Roberto no banco da pracinha e lia qualquer tipo de livro.
Chegava sempre meia hora mais cedo, pois entrava às doze e trinta. Roberto gostava daquela sombra que o cajueiro fazia, justamente naquela hora, em cima do banco da praça. Neste dia porém, algo surpreendente e curioso aconteceu! Roberto sentou-se de baixo da sombra companheira, abriu o seu livro e como de costume, começou a viajar no mundo da literatura.
Neste momento, alguém lhe perguntou com um tom de afirmação: - É... Você está atrasado! -No meu relógio, exatamente cinco minutos!
-Pode me dizer o que ouve Roberto? Ele então olhou para os lados, para trás, não viu ninguém! Balançou a cabeça com um tom de quem se diz:- Estou ouvindo coisas?.. Continuou a ler. E mais uma vez ouviu alguém lhe perguntar: - Só porque sou uma árvore, não mereço uma resposta Roberto? Neste momento, o garoto saltou de forma brusca, como se tivesse sido espetado por uma agulha no traseiro. Não entendia o que estava acontecendo... Afinal, quem falou com ele, foi mesmo o cajueiro? Roberto tentou como pôde, se refazer daquele grande susto, tomou fôlego e coragem e perguntou: - Foi você mesmo que falou comigo?.. -Uma árvore!...

A árvore respondeu com um tom de ironia: - Claro que foi eu! – Por acaso está vendo mais alguém aqui além de nós? Roberto, ainda atordoado com o acontecimento, retrucou: - Não é possível!.. Eu devo estar lendo demais!
Estou ouvindo uma árvore falar!.. O cajueiro insistiu com o dialogo: - Lhe observo todos os dias! Até leio também o seu livro!..
Roberto, ainda assustado com o fenômeno, porém agora, um pouco mais tranquilo, manteve o dialogo: - Não estou entendo ainda... Porque você pode falar?
E o cajueiro respondeu: - Eu fui atingido por um raio ontem, durante a chuva! Antes, eu só podia enxergar ouvir, agora também posso falar!.. Não é fantástico??? Roberto ficou maravilhado com tal revelação. Como já estava na sua hora de aula, se despediu da árvore, prometendo voltar no outro dia bem cedo: - Até manhã cajueiro! E ele: - até amanhã Roberto!

No dia seguinte como havia prometido, estava lá na pracinha, Roberto, junto ao cajueiro, mais não veio sozinho. Trouxe sua irmã Tereza e seu amigo Cláudio, para ouvirem também a árvore falar. Mas tal foi a decepção!.. Roberto, na presença de sua irmã e seu amigo, tentou sem sucesso um dialogo em vão: - Bom dia cajueiro! Não obteve resposta. Novamente tentou, mais agora com uma certa preocupação, pois os olhares dos convidados, já eram com um certo ar de deboche...   Roberto então pensou com os seus botões:        -Será que eu estou ficando doido?   E outra vez tentou:      - Bom dia cajueiro! Agora foi a gota d’água! Sua irmã e seu amigo, não o perdoaram, com deboches o acusaram:   - Você é doido Roberto!   -Tem que ser internado, e a gente ainda acreditou em você!.. - Onde já se viu alguém falar com uma árvore e ainda esperar que ela responda!.. Cláudio e Tereza, finalizaram as críticas e foram embora.   Roberto, indignado, já duvidando do seu equilíbrio mental, sentou-se no banco de baixo do cajueiro.
E o cajueiro outra vez falou: - Roberto, me desculpe por lhe fazer passar vergonha na frente de sua irmã e de seu amigo, mas acredite, foi melhor assim!
Afinal, só você pode me ouvir!   Roberto respondeu:   - Mas se isso for verdade... Quem me ver conversado com você, vai me chamar de maluco, e não vai demorar muito, vão querer me internar! A árvore o tranquilizou: -Não fique preocupado meu amigo Roberto!..   - A sua missão é muito importante para o mundo!   – Esteja aqui amanhã, meio dia em ponto, pois eu farei uma grande revelação!


Roberto foi pra casa preparar-se para as aulas, pois as horas estavam próximas. A noticia do cajueiro falante, correu com o vento por toda a cidade! Cláudio, até então seu melhor amigo, tratou também de espalhar o boato, e isso, só para debochar do Roberto! Que amigo em!.. E como são rápidos...Até no jornal da cidade a fofoca saiu! A namorada de Roberto quando soube da historia, foi tirar satisfações. Roberto não negou, confirmou, tim tim por tim tim todo o boato. Diante das evidências, perdeu a namorada! Tânia não estaria disposta a manter um relacionamento, com alguém que estava sendo chamado de louco por toda a cidade... Roberto ficou triste, porém, sua amiga Flávia que estudava na mesma escola, tratou de apoiá-lo, até porque, mantinha um amor secreto por ele e faria de tudo por esse grande amor.

Roberto acordou no dia seguinte ansioso, a bem da verdade nem dormiu direito, sabendo que esse dia, seria o mais importante de sua vida!
Reservou papel e caneta para anotar tudo que o cajueiro teria a revelar.
O horário marcado já estava próximo. Nessa empreitada, Roberto tinha o apoio da sua mãe, que não duvidou dele em nenhum momento, e de sua amiga Flávia, que estaria ao seu lado em qualquer circunstância.
Então, bem próximo das doze, lá estavam: Roberto, dona Regina e Flávia.

Mas que surpresa vejam só!   Por conta da maliciosa fofoca, a pracinha começou a encher, com gente vindas de todos os lados! Moradores curiosos, Jornalistas, policiais atentos, observavam de longe. Diante a tanto tumulto, o excelentíssimo Sr. Raimundo pessoa, Prefeito da cidade, resolveu intervir, enxergando essa necessidade:

-Vai pra casa garoto! -Desista dessa idéia maluca! -Será que você não percebe que está causando desordem à cidade?...   -Olha só este tumulto?..   -Até parece uma festa! -Você acredita mesmo que a árvore vai falar?

Roberto respondeu: - Senhor prefeito, eu peço um pouco de tolerância e paciência. -Eu não convidei toda essa gente, mas já que vieram, falta pouco pra hora marcada!      Enquanto esperavam, ouviam-se deboches de curiosos de todos os lados e em voz alta:    - Esse menino é doido! Outros: -Interna!   -Interna!
E mais outro: - Tem que trancá-lo em um hospício e jogar a chave fora!





Então chegou às doze horas. O cajueiro falou, mas de uma forma que só Roberto poderia ouvi-lo: - Escreva meu companheiro de literatura! - Eu, o Cajueiro, na última chuva, fui atingido por um raio e não foi por acaso! - Foi a forma, que a mãe natureza encontrou pra dar o seu recado!

-Ela pede com amor e gentileza, para que cuidem da gente, flora e fauna.
– Que não desmatem as florestas, mais se assim o fizerem, replantem e reponham o que retirarem.   -Preservem os rios, cachoeiras, lagos e mares e não se esqueçam, de vocês ela precisa pra sobreviver, mas vocês também precisam dela. Ela diz ainda que, para selar um pacto de confiança e amizade, me fará dar frutos em abundância, mesmo não estando na época!
Finalizando a mensagem, o cajueiro, em um profundo e sobrenatural esforço, deixou fluir de sua árvore, e em grande quantidade, o caju, selando o pacto prometido. A multidão presente, atônita e espantada, passou a acreditar no Roberto e na sua mensagem.    O fruto brotava da árvore, e em frações de segundos, crescia, madurava e caia no chão. Era um atrás do outro sem parar. Todos pegavam e comiam, e ainda voltavam pra pegar mais... Assim se deu por um bom tempo, e até que todos enjoassem.    O prefeito diante de tanto entusiasmo e euforia, decretou naquele momento, feriado municipal aquela data! Decretou também, patrimônio histórico da cidade, “O Cajueiro”! Que seria ele, o símbolo mais importante e respeitado do município. Roberto então, recuperou a credibilidade e com juros... Todos queriam apertar sua mão! Todos queriam abraçá-lo!
Fleches de fotos eram constantes. Todos queriam uma foto, ao lado de Roberto e de frente ao Sr. Cajueiro. A noticia correu como um rastilho de pólvora, de tal rapidez que, em pouco tempo, a cidade estava cheia de turistas e habitantes das regiões vizinhas.   O comércio da cidade já estava faturando alto. Ambulantes de todas as espécies e mercadorias, não paravam de gritar, tentando faturar com o evento. Roberto, realmente reconquistou o respeito e admiração de todos. Cláudio envergonhado, pediu desculpas a ele e estas foram aceitas. Tereza fez o mesmo e da mesma forma foi perdoada, só que esta, não se continha de orgulho, afinal, era agora a irmã do garoto mais famoso da cidade!..   A sua ex-namorada, vendo o sucesso eminente, quis reatar o namoro, mas Roberto não se deixou enganar, preferiu começar um namoro com Flávia, percebendo que a amizade fiel, se tornou algo mais e lhe deu um breve beijo de compromisso.



Daquele dia em diante, a cidade nunca mais foi a mesma!
Todos queriam ver, na pracinha, ao lado do banco, o Cajueiro, que se tornou atração turística.    O Cajueiro nunca mais falou!   Roberto, depois de várias tentativas, cansou e desistiu.   Mas algo interessante e curioso, acontece até hoje na cidade de Pirilampo do Sul. A árvore passou a dar frutos o ano inteiro, e eu tive o prazer de experimentar vários deles, pois retornei a cidade, depois de uma longa jornada de trabalho. Eu sou Carlos Henrique, caminhoneiro, e mais ainda, o orgulhoso pai de Roberto!     E que fique bem claro! Quem duvidar dessa historia ou falar mal da minha cidade, vai se ver comigo!
                                              
                                              FIM


Este texto é administrado por: Carlos Mambucaba
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