Freqüentemente elegemos como vilã de nossas mais terríveis idiossincrasias, alguma coisa externa que, como passe de mágica, faz agir o “monstro” que habita em nós. Thomas Hobbes (1588-1679) filósofo inglês já dizia, em sua principal obra: O Leviatã, que Homo homini lupus – o homem é lobo do homem, para descrever que o ser humano tem uma natureza doentia e que é preciso a existência de um poder (o estado) para sucumbir essa natureza e para que o homem possa viver em sociedade.
Colocamos a culpa na bomba atômica e não no ser humano que a jogou. Na arma e não no assassino que atirou. Na bebida e não no motorista que se embriagou. Agora, colocamos a culpa nas pulseiras coloridas e não nos jovens que as usam. O símbolo tem mais poder que o discernimento: os últimos acontecimentos envolvendo os artefatos colocaram a pulseira como a vilã de tudo.
Se a proibição do uso da pulseira der certo, temos que aceitar a teoria de Thomas Hobbes em relação à condição humana. O homem é mesmo um ser doentio e precisará sempre do Estado para coibir sua natureza. Por outro lado, se soubermos por que os jovens gostam de usar as pulseiras e, mais do que tudo, SABEM por que estão utilizando, entenderemos um pouco mais a natureza humana e, talvez, poderemos ser mais autônomos, deixando para o estado apenas o que lhe compete.
Essa é a discussão que devemos ter em todos os níveis: Jovens, Pais, Professores, Sociedade etc. Colocar o governo nessa discussão é dar para o estado mais uma atividade que ele vai conduzir de forma equivocada. Sempre que passamos a tutela de coisas da natureza humana para o estado, estamos passando um “pedaço” de nossa autonomia e consciência.
Se continuarmos a fazer isso, chegará o tempo em que, para tomar um café, devermos pedir permissão ao poder do estado. Parece exagero? Pois bem, veja como o braço do estado vem crescendo de forma totalitária em vários países do mundo. Vivemos um capitalismo que tem como premissa o poder. Esse poder, para uns é o lado doentio do ser humano, como diz Thomas Hobbes, para outros é chamado de evolução/desenvolvimento.
Enfim, se não discutirmos esse problema sem o envolvimento do estado, teremos que aceitar o que ele decidir. Seremos mais uma vez alienados de nossa condição humana autônoma. Um símbolo, seja ele qual for, não poderá nos cegar e fazer com que nossa liberdade de decidir seja tutelada. É assim com a pulseira, com um crucifixo e com toda simbologia existente no planeta. Se acreditarmos que o símbolo é mais forte que a consciência dos jovens, nada mais poderá ser feito. Os “objetos” se tornarão “sujeitos” de nossas vidas.
Xiko Acis
Filósofo & Consultor
www.xikoacis.com.br
Outono/2010.
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