Vovó e Vovô.
Eu era temporão, e convivi com os meus avós já bem idosos.
Vovó era carinhosa, gentil e muito meiga, tratava o vô, como a sua riqueza pessoal. Minha percepção infantil não entendia o relacionamento deles. Via nos meus pais tudo diferentes, apesar das briguinhas eram unidos e viviam de amorzinho.
O vovô não se importava com a vó, não lhe dava atenção, era dispersivo e alheio a tudo que ela fazia. Vi muitas vezes ele até lhe perguntar.
_ Quem é você? Ela paciente lhe respondia.
_ Idono, sou a tua Tereza, não se lembra mais de mim, querido, noutros momentos dizia: — Quero ir embora pra casa, ela com meiguice explicava que ele estava em casa. Raramente quando saiam era ela quem o conduzia pelas mãos, muito embora ele se mostrasse ausente, às vezes arredio, tentava se soltar para fugir.
Certa manhã, estávamos no mercado e uma conhecida ironicamente nos interpelou e perguntou.
_ D. Tereza, a senhora é uma santa. Eu não sei como consegue conviver com o seu marido que nem sequer lhe reconhece?
Vó Tereza, com classe, lhe respondeu.
_ Sabe, Margarida, ele não me reconhece por que sofre de Alzheimer _ uma doença da perda da memória, causada pela morte de células cerebrais, mas, eu sei bem quem ele é.
Idono, é o amor da minha vida e eu o amarei sempre, ele se lembrando ou não de mim.
Autor: Jonas Vasconcelos.
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