O jovem Kami (sol) da etnia Waurá, caminhava pela floresta, próximo à sua aldeia localizada às margens da lagoa Piyulaga.
Os Waurá habitam o Território Indígena do Xingu, na região ocidental da bacia do rio Xingu, no estado do Mato Grosso. Sendo reconhecidos pela criatividade do grafismo de sua arte simbólica e de suas máscaras ritualísticas.
Acompanhado de sua amiga inseparável, uma onça-pintada, quase em extinção. Criados juntos, desde o nascimento, possuem uma grande ligação transcendental.
Além de sua esplendida cultura, os Waurá possuem fascinante religiosidade, que une os animais, os humanos e os seres sobrenaturais que povoam suas práticas de Xamanismo.
De repente Kami sentiu um grande aperto em seu coração. O cheiro de fumaça impregnava o ar da floresta, carregando a mensagem das queimadas que destruindo a floresta e seus habitantes, magoam o espírito de povos originais, guardiões da mata, seus antepassados.
A Amazônia sofre com o aumento das queimadas. Esses focos não são, devidamente, controlados ou combatidos, por omissão ou, até conluio dos governantes, autorizando, implicitamente, a ação de madeireiros, “grileiros”, garimpeiros e empresários gananciosos do agronegócio.
Cercado por chamas, sufocado pelo calor e pela fumaça, Kami cai desacordado. Sua amiga, que acompanhava tudo atentamente, percebendo tamanho sofrimento arrasta-o, atordoado, até a margem do rio Batovi. Mas devido a tamanho esforço perde as forças e desfalece.
Kami desperta, encontra a amiga desmaiada e clama aos seres da floresta auxílio para salvá-la. O Xamã da aldeia, sentindo tão intenso lamento evoca tais seres sobrenaturais, que choram sobre a floresta, apagando as chamas e dissipando a fumaça.
Banhada pela chuva refrescante, percebendo apelo tão sofrido, a onça desperta, interrompendo a jornada iniciada, e acaricia o amigo agoniado.
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