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O MAIS IDIOTA DA FAMÍLIA
Wilson Luques Costa

Quando recebi o e-mail, não acreditei. Aquela sigla não me parecia algo familiar: PEANCS.
Esforcei-me para compreender o seu significado.
Eu que sou dado aos estudos dos significados/significantes.
Mas logo abaixo vinha: PRIMEIRO ENCONTRO ANUAL DA N.C.S.
Alguns nomes eu reconhecia evidentemente. Jorge Mariano houvera sido almoxarife.
Fillegotti trabalhado comigo no arquivo de clientes especiais.
Luizão era o que organizava as nossas esbórnias na sete de abril.
Henrique o que pendurava a cerveja no Costa do Sol, enquanto esperávamos para ir dançar gafieira no Paulistano da Glória ou no Som de Cristal.
Haveria pizza e malte.
Será que a Sabrina ainda estaria gostosa?
E a Cidinha?
Porra! Salve deus onã!
Vou mesmo nessa!
Eu não tinha os dez contos para a consumação mínima...
Mas o chopp viria de graça...
Se a Cidinha desse sopa dessa vez, iríamos parar lá no Cartola...
Depois, depois não sei...
O futuro a deus pertence...
Agora, eu depositava todas as minhas fichas na Cidinha...
Arrumei as dez pratas de chinelo e guardei-as bem escondidinhas..
Há dias que eu vinha usando uma alpercata para aliviar as dores de um calo inopinado...
Mas meti também um jeans, uma camiseta índigo e um blaser do brechó da Isaura.
Desci a rua azafamado...
Por lá chegando, escondi-me atrás de uma pilastra.
Observei...
Por detrás da mureta, que me servia como anteparo à minha timidez, um Meriva estacionando...
Logo em seguida um Airtrek 4x4 16v5p.
Fiquei por lá mais um pouco...
Agora era um Boxter Tiptronic (2.7)(conversível)...
Resolvi chegar...
À porta, o meu velho companheiro de tia Olga, mestre Ivan, que chamávamos de mestre Ivaninov.
Cumprimentou-me e disse-me para adentrar.
Meio estorvado e meio ressabiado entrei.
O velho punk ostentando um terno indefectível...
Perguntava-me dos negócios, se havia atingido a meta naquele ano...
Perguntava-me em qual multinacional eu me encontrava...
Em vão, eu tentava explicar-lhe que não se tratava daquilo e que...
Mas inconsequentemente apresentava-me à nova turma...
Dizia-me de Alberto, hoje superintendente de uma estatal, o mais jovem conselheiro do clube...
De Chinaglia...
Afoito, comigo, eu repetia a primeira, a segunda e a terceira declinações...
Do latim todas as cinco mais os pronomes...
Tentava entender o significado ontológico da palavra ousia, da derivação dos tempos, compreender o infectum e o aoristo, estabelecer a derradeira compreensão de um supino, enquanto mastigava a pizza do outro lado, a fim de proteger um molar cariado.
A cada garfada esfaimada na Margherita, eu refazia as minhas reconsiderações: todos os meus amigos, bastantes, haviam mudado...
Só eu continuava ali sendo o mais risível ainda dos idiotas da família...


Biografia:
Wilson Luques Costa nasceu em São Paulo, SP, Brasil. Jornalista, professor, poeta e escritor. Eleito pela Academia Internacional de Literatura Brasileira - NY um dos Top Five nos Destaques Literários Awards Focus Brasil NY na Categoria Ensino e Pesquisa com o ensaio O Paradoxo do Zero.
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