Alguns poemas escolhidos |
Wilson Luques Costa |
Resumo: Alguns poemas reunidos de Wilson Luques Costa. |
O PAI
cortou o sertão o arenoso sertão um saara
esquecido
mas fornido de pedras e lapidares nomes
onde ouviu um tímido baião ou um furtivo jazz
no largo da matriz
veio baldeando por minas espírito santo
rio ...
pensou em retornar à bahia ou seguir para cuiabá...
aqui falou óxente, vigi e também fincou raízes...
quando bebe um conhaque
pensa logo em voltar para a chapada diamantina
Filho progênito
sob a vigília de Amália / minha tia
minha mãe
tirava linha com meu pai
sou filho progênito de um amor censurado
Córdoba
terra de meus avós
que desconheço
por fotos ou pela oral tradição
reconstituir-te agora tento
Córdoba
Tu
em meu coração
A gruta
Sua avó cantava e costurava
Seu pai brincava com o cavalo de pau
Punha o elmo de plástico e sonhava ser um romano
Pelas ruas libaneses negociavam diamantes
Perdido na gruta escura seu avô carregava
sacos de cascalhos e não olhava para trás
Seu avô já sabia das profecias
Quando estamos num labirinto
Nem mesmo Orfeu nos redime
O GARIMPEIRO - PARA CHAPADA DIAMANTINA
A bátega com o latagão
As semipedras pedras-cascalhos
Não diamantizadas são o seu látego
À procura de diamantes mergulha com a sua enxó em vórtices de arenito
É desde tenra idade
Caçador de voragens
Do Livro - Etnias - para meu avô Francisco Luques Serrano - in memoriam
Apostou cortar o ocenao
em Córdoba não havia esperança
antes mesmo do advento de Guernica ou daquela estúpida guerra
já vaticinava todo o malogro
dentro de sórdidos porões
não viu o marujo que o mar escondeu
nem tampouco ouviu o choro de Kaváfis na escura taverna
foram vinte trinta quarenta dias singrando o mar
chamava-se Ulisses e nem sabia
Etnias
foi na chapada diamantina
que meu pai
pela primeira vez viu o pôr-do-sol e
ouviu um belíssimo
baião de luiz gonzaga
dois seixos de diamantes
duas pedras de garimpo
Etnias
o povo da chapada come o seu filão
e vindima a sua fome
com pedras
da draga
de mestre venâncio
seus diamantes
ele carrega
no bornal das imprecações
mas Deus
infelizmente
só tem usado ultimamente
os seus anéis de saturno
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Biografia: Wilson Luques Costa nasceu em São Paulo, SP, Brasil. Jornalista, professor, poeta e escritor. Eleito pela Academia Internacional de Literatura Brasileira - NY um dos Top Five nos Destaques Literários Awards Focus Brasil NY na Categoria Ensino e Pesquisa com o ensaio O Paradoxo do Zero. |
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