No meu ombro nem
papagaio de pirata,
do estouro da boiada
não quero ver nem
o "poeirão".
Salte pelas janelas.
Salve-se quem puder.
Serrar grades é
sempre mais difícil.
No meu ombro não levo
nenhum papagaio de pirata.
E Deus me livre
das velhas raposas
e das galinhas chocas
que cuidam dos ninhos
com ovos de ouro de tolo.
Se jorrar o petróleo do poço
que não se repita, nem persista,
os escândalos nas repartições.
No meu ombro não carrego
nenhum papagaio de pirata,
não sou poleiro de pombos,
tampouco de pardais.
Da partitura só me interessa ouvir
cânticos livres e originais.
Sou poeta, mas não trago
no bolso a carteirinha para provar,
nem para apresentar como álibi.
No meu ombro não pia
nenhum papagaio de pirata.
Sou poeta guerreiro,
um menino a pular cordas
e a andar de cavalinho de madeira.
Um menino a rodar pião,
a soltar barquinhos na enxurrada
e a brincar de pega-pega
como cabra-cega.
Sou "cirandeiro",
vem comigo cirandar.
Também sei esquadrinhar estórias,
como quem prepara algo para degustar.
Minha cara e coragem é a minha honra
e o meu presente faço questão de desenhar.
No meu ombro não carrego
"mulambos," nem saco de ossos.
O meu trem não pode parar,
ainda que eu precise embaralhar
as palavras como vagões,
o meu quebra-cabeça vou resolver.
Meu trem não pode parar!
Ainda que eu precise
reinventar cada uma das rodas
do meu trem,
todas as rodas do meu trem
tem que rodar.
Não.
Não quero ter cara,
nem máscara
de peixe fisgado pelo anzol
e no meu ombro
jamais transportarei
algo que não valha a pena.
No meu ombro não.
No meu não.
Papagaio de pirata
nunca hei de carregar.
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Biografia: Tércio Sthal, Natural de Tupã, SP, Poeta e Escritor, MBA em Gestão de Pessoas, Cadeira de nº 28 da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, com publicações em coletâneas da Shan Editores, Autor de a Cidade das Águas Azuis e O Menino do Dedo Torto, Do Abstrato ao Adjacente, Inferências, Referências e Preferências em http://bookess.com e Lâminas e Recortes em Widbook.com
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