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Miscelânia poética - 2
oscar silbiger

1.     Nunca mais

Vai, menino, que esse mundo é pequeno para nós dois.
Pega sua trouxa, seu violão e cai no mundo.
Esquece meu endereço, meu apreço, meu desprezo.
Esquece minha cara, minha tara, minha pele,
esquece sua raiz, sua matriz, seu arreio.
Aqui não há mais ar para você respirar,
aqui não há mais terra para acobertar seus ossos
aqui não há mais memória para vasculhar sua vida.
Vai embora, já vai tarde, vai!
Quando acordar, não quero mais sentir que um dia
você passou por aqui.
Esse chão não é seu, nunca foi, nunca será.
Vai, menino, vire homem em outros sertões,
vire ferrugem em outros serões,
vire coalho em outros sermões.
E, quando quiser voltar, a porta estará recostada,
a mesma porta pela qual passaram todos seus sonhos.
Até um dia qualquer, menino.
E não olhe para trás.
Nunca mais olhe para trás.


2.     Pro meu guri

Quem é você, guri,
que corre de calças curtas pelas ruas daqui,
que quer crescer, ficar maior que você mesmo.
Quem é você, guri,
menino levado, levado pela vida,
que olha pra tudo e nada vê,
que olhe pra tudo e todo vê.
Quem é você, guri,
que chora como me regasse com suas lágrimas,
que faz pergunta e some antes de vir a resposta,
que tem sede de luta amalgamada nos seus porões.
Quem é você, meu guri,
meio vadio, meio tardio, meio ateu,
meio Deus,
a sua fé não escorre dos livros, nem dos suores dos sábios.
É dentro de você que repouso minha carne mais fértil.
E que o tempo nunca será capaz de devorar,
nem, tampouco, expulsar de dentro de mim.


3.     Frutos e vultos.


Vivem muitos mundos dentro de mim
e que ainda nem descobri.
Eles vivem calados, caçados, cavados,
como se fossem trancas dos meus cabrestos mais viris.
Há tantos mundos espreitando dentro de mim,
pouco sei deles, o espelho não os reflete nem os respinga.
O calo nos meus pés não os aponta, nem desnuda,
os medos que nem conheço são deles frutos e vultos.
Frutos e vultos.
Que eu, peregrino desses confins,
ainda irei percorrer, e até conhecer.
Talvez até esquecer, quem sabe um dia.
Quem sabe um dia.


4.     Reflexão



Hoje não estou mais sozinho,
abri os olhos e vi que mundo estava diferente.
Tinha tanta gente comigo abraçada, festejando a vida.
Uma alegria nada camuflada, nada travestida,
e senti, pela primeira vez
o gosto embriagante de um aperto de mão.
As pessoas vêm chegando e acabam entrando em mim.
Se enlaçam nas minhas veias, teias, se confundem nos meus pelos,
se penduram nos meus braços como se estivem num balanço de jardim.
Essa sensação me faz sentir que sou gente,
que tenho direito a ser feliz.
Então viro meus olhos para dentro de mim e, então, vejo por fim.
Que nunca estive tão sozinho assim,
tão sozinho assim, por fim e por mim.


5.     A Deus.

É tarde, vem jantar.
Vem se lavar, chegar de brincar.
Corre, cata a bola, vai logo.
Essa tosse, sei não, sei não.
Vem cá, me dá logo esse beijo,
como você cresceu, benza Deus!
Precisa estudar mais, esse menino.
Está na hora de dormir, meu filho.
Não fica triste, eles não sabem o que falam.
Até amanhã essa dor passa.
Acho que essa dor não vai passar nunca mais.
Você está indo de mim, nem tive tempo de dizer adeus.
Só tive tempo de te dizer a Deus. A Deus.


6.     Saudade

Pai, cadê você?
Hoje de manhã você não estava mais aqui.
Revirei tudo, fui atrás dos móveis, das frestas, nas entranhas do pó do chão.
Subi nas árvores, nas falanges do vento, nos quinhões do Sol,
cadê você, pai...
Todo mundo tem pai,
pra brincar, mentir, desafiar o mundo.
Todo mundo tem pai,
para desvendar seus medos, desarmar seus sonhos,
ouvir todas manhãs seus gritos de guerra.
Cadê você, pai?
E não foi só hoje que você sumiu.
Lembro agora que ontem também não achei você.
E na semana passada, você também não esteve por aqui.
De verdade, nem lembro quando vi você chegar.
Só lembro da última vez que vi você ir embora.
Para nunca mais voltar.

7.     Confissão

Tenho tantos filhos, de tantas mulheres,
alguns arredios, alguns tardios, alguns vadios,
outros que afago sem medo,
outros que escancaro feito zíper,
outros que nem sei onde é a entrada.
Alguns coloco no colo pra fazer dormir,
outros me deixam no colo todo o dia,
todo o dia.
Alguns conheço pelo nome,
outros a vida se encarregará de batizar num dia qualquer.
Alguns são perfeitos, inteiros,
outros mal formados, em tecos, bizarros seres que nem gosto de chegar perto.
Alguns são decididos, enevoados de paixão,
outros tropeçam em si mesmos tal bêbados expulsos de uma orgia louca.
Alguns afiam seus dentes só roçando na minha pele mais seda,
outros devoram seus inimigos só assoprando seus sonhos,
só assoprando seus sonhos.
Alguns estão sempre junto de mim, como cão fiel.
Outros vivem atrasados para o próximo trem.
Alguns são travessos moleques, outros viraram velhos se escorando nas suas histórias de vida.
Alguns são meus sábios, meus tolos, meus ímpetos eunucos.
Tenho tantos filhos, de tantas mulheres,
mas todos, na verdade, são uma coisa só.
Eu mesmo.


8.     Felicidade

É uma porta aberta,
uma palavra certa,
um olhar sem dizer nada.

É um prato cheio,
saber a que veio,
uma voz forte e desarmada.

É abrir os braços,
saber onde estão os laços,
aportar o barco na hora esperada.

É saber esperar o vento,
semear o sentimento,
pra ser capaz de
colher o fruto na sua melhor fornada.


9.     O ser pai

Que bom que é ter um filho,
poder iluminar, alinhar, atiçar.
Poder fazer e depois jogar pro mundo,
pra que o mundo o possa escorar, sacudir, decantar,
desfraldar.

Que bom que é ter um filho,
poder parir, remexer, virar do avesso.
Abrir atalhos, contar segredos, ser cúmplice nas armadilhas,
ser o detalhe nas suas fagulhas,
tentar ser o parceiro mais presente nas primeiras ciladas da vida.

Que bom que é
ter um filho,
pra poder se atracar, negar, perdoar, amar.
Poder descobrir juntos caminhos pra depois abraçar com fé,
corrigir os nódulos herdados para nunca mais voltar a dedilhá-los.
Nunca mais.

Que com que é ter um filho,
esculpir os códigos, rascunhar os sentidos,
decantar os desejos, sussurrar o futuro para alinhavar o futuro.
O futuro.

No fundo, no fundo,
a única coisa boa de ter um filho
é conquistar o direito
de ser chamado de pai
por toda vida.
E nada mais.


Biografia:
Tenho 51 anos e sempre gostei e tive facilidade para escrever, construir e contar histórias. A minha relação com o texto é puramente lúdica, livre e extremamente agradável. Talvez seja por isso que consiga transitar em diversos campos, contos, poesias, publicidade, etc. com grande facilidade. Hoje estou retomando um trabalho pioneiro no país, iniciado em 1981: escrever histórias de vida de pessoas não famosas, produzindo um único exemplar (ou mais exemplares, se for necessário) de um livro contendo as suas fotos e textos (inclusive poesias) especialmente desenvolvidos por mim para valorizar cada momento retratado. O acabamento será digno dos livros de arte, sendo entregue numa exclusiva caixa em madeira MDF. Essa iniciativa que já completou 28 anos tem sido motivo de inúmeras reportagens no Brasil e exterior (jornais, revistas, rádio e TV), conforme poderá ser visto nesse link http://www.terra.com.br/istoe/comport/150417.chtm O meu telefone é (19) 9267-9766 e e-mail getleadsbrasil@globo.com Tenho uma metodologia para atender interessados de todo o país com grande agilidade e custo extremamente acessível. Viver é importante, mas preservar a experiência é fundamental.
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