Nas regiões rurais brasileiras o bem caminha lado a lado com o mal. É coisa rotineira e já faz parte da cultura e educação interioranas. Nos cartórios de registro civil das longínquas comunidades, pessoas de alguns credos cristãos, deixam nas folhas dos livros centenários nomes como, Antônio, João, Pedro e Paulo. É a referência da fé católica e herança dos colonizadores portugueses.
E falam no Sertão nordestino, que um homem conhecido por João de Santo Cristo, registrado como cidadão brasileiro num município do interior baiano, morador humilde e bem visto pelos habitantes da localidade, cresceu e tornou-se um fora da lei pelos acasos e atalhos de vida, que mudaram os caminhos de uma educação conservadora e tida como do bem, tão comum nas pequenas cidades do Brasil. O estopim da explosão nas mudanças de personalidade de João, foi a morte do pai, Zé Santo Cristo, assassinado por um capanga de um latifundiário poderoso da região. O ódio adormecido na personalidade do caboclo João acordou de forma incomum.
Era 15h, tarde de temperatura escaldante, os pássaros bebiam nas cacimbas de águas barrentas, a vegetação seca pedia chuva, quando Zé Santo Cristo - pai de João - voltava do Sítio dos Mulungais, após trabalhar em um roçado de mandioca do finado Antonhe Machado, velho fazendeiro e coronel político durante décadas. O galope do cavalo - de cor cinza e malhado com branco - em que Zé vinha montado, tinha o cansaço do verão nordestino e deixava o som compassado, com ritmo próprio e melodia fúnebre do repertório da Banda R-45 (bandinha musical da redondeza e especializada nos enterros de personagens dos conflitos rurais). Ouviu-se o barulho de um tiro. Parecia o estampido de uma arma, tipo fuzil. O som da morte ecoou na mata e serra... Um corpo suado e ainda sujo da terra do trabalho, caiu, sangrando o sangue dos justos ou injustos sem terras, e agora: coberto de muita terra e sangue. João Cabral de Melo Neto escreveu uma estória ou história parecida. Em Brasília, pouco se sabe dos índices de violência no campo. No Sertão, os assassinatos causados por disputas políticas, agrárias e da honra, são apagados pelo vento, e a mão de quem manda. Com o tempo, as mesmas cenas de violência tornam-se arte! São adaptadas nas diversas formas de mídias, e viram livros, músicas, peças teatrais, filmes, séries de TVs e outros entretenimentos, financiados pelo setor privado e público, que não investiga os crimes atuais ou do passado. A cena do tiro mortal em Zé Santo Cristo, lembrava uma tela renascentista de Leonardo da Vinci.
Nos pesadelos de João de Santo Cristo - filho do assassinado Zé - aparecem cores vermelhas mescladas com mato seco. Um quadro colorido e cheio de santidades, costuma aparecer nesses sonhos ruins. Nas justificativas para as delinqüências de João, na cidade grande, citam seu passado de injustiças... Uma violência pode desencadear outra violência?
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Biografia: ** LAILTON ARAÚJO * Nasceu na cidade de Sertânia, Estado de Pernambuco - Brasil em 1959. É músico, compositor, cantor, ambientalista, pesquisador de ritmos regionais brasileiros, escritor e ex-professor (não formado) do Cursinho Pré-Vestibular Educafro, onde lecionou as disciplinas: biologia e geografia. * Trabalha há 34 anos na área cultural, atuando como empresário de eventos, marketing e diretor fonográfico. É vocalista da Banda Moxotó - de Pernambuco. * Atua ainda como produtor artístico de Anastácia, Banda de Pífanos de Caruaru e Oswaldinho do Acordeon. Realizou quase 1500 eventos. ** CONTATOS * Tel. (11) 9.9200-0987 * São Paulo - SP - Brasil * lailtonaraujo@bol.com.br * lailtonaraujo@yahoo.com.br |