Contava quatorze anos de idade, amanhecia e anoitecia trabalhando, desdobrava-se para dar conta das tarefas diárias.Vontade de ser datilógrafa, mas de que jeito? Poderia ficar sentada, bem comportada, em frente a uma máquina de escrever? Sua natureza era andar, gesticular, dançar... Gostava dos serviços da casa, fazia com prazer e alegria, atuando ou interpretando mãe dos sobrinhos, do pai, dos irmãos. Fazia de cada cômodo um requintado camarim, mostrava ao espelho que sabia interpretar, imitando os outros. Quando havia platéia, fazia enquête com o balde e a vassoura. Dirigiu grandes espetáculos, até mambembeou nos quintais, fazendo cenários com os lençóis que estendia nos varais... Depois de encerar, passar óleo nos móveis estilos chippendale, lustrar, dar brilho nas panelas, varreu o vasto quintal, molhou os canteiros onde residia um camaleão feio, porém útil. Lira havia se acostumado com ele atravessando o terreiro.
Satisfeita, cantava ao tomar banho, nada mais justo, havia de demorar, não seria muito fácil tirar as marcas da cera Cristal dos joelhos. Seu irmão resolveu fazer uma brincadeirinha dessas que muita gente gosta de fazer pra zoar. Pegou um bambu, fez uma forquilha e o camaleão que tomava seu último Sol da tarde daquele sábado de verão, foi o gaiato a ser colocado na forquilha, introduzido pelo basculante para assustar a menina. Ela gritou muito, correu de um canto a outro do banheiro e o Norival insistindo com o bambu, e o bicho se batia, torcia e retorcia o corpo, quase caía daquela altura de tanta força que fazia. Lira gritava: “Tira esse calango daquiiiii!...”. Ficou muito assustada...
Lira lava as roupas no embaixo de grande cajaeiro, mais o tangue ficava em baixo do pé de abio.Ouviu longe o assovio de Valdir(calango), Gritou: _Lira. Lirinha estou com pressa: _ Vem cá _ não posso to com pressa, vou a toda. Espero-te na casa de Dora_ T certo você prefere choca Dora a me fazer companhia_ deixar de bobagem, termina o serviço e foi como uma flecha!
A turma se encontra todas às tarde na casa de Dora. E lá chupam cana, comem goiaba tomam café feito por Zezé mãe de Dora e cunhada de Lira.Os amigos se divertem como podem ouvem a novela A Cabana do Pai Tomas, músicas.Neste sábado, havia um baile na redondeza Lira já havia desistido, Sílvio tinha chegado do Espírito Santos vendendo livros. Mais Valdir achou um jeito de Lira ir: _ Você fica de olho na esquina que vou vir te buscar. Quando o Sílvio passar nem vai me ver na escuridão, sou preto mesmo, vou de roupa escura ele vai passar e eu venho te pegar. Lira duvidou que isso desse certo. Não é melhor você cumprimentá-lo?_ Posso, claro que osso ele vai pensar que estou esperando alguém. Ou finjo que a bicicleta está ruim. Eu invento deixa comigo.
À noite lá pelas 10: h. Lira olha para as mangueiras e ver o farol da bicicleta piscar. Começa a ri. Sílvio de nada desconfia, depede-se de Lira, que entra, minutos depois desce o neguinho com seu assovio. Lira chega na varanda e diz será que Silvio pode voltar:
_ Que voltar! Ele já até pegou o ônibus ele até correu eu vi quando ele entrou, vamos embora está todo mundo no baile, está de arromba, é hoje que eu vou virar o negro gato.
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