Foi logo antes de eles sumirem. Eu lembro, eu estava lá.
Eram todos iguais a qualquer jovem que você possa ter conhecido. Eu os chamo de garotos dos sonhos perdidos.
Lembro de como eram felizes e desajustados, tinham tantas verdades na cabeça e quase nenhum medo em seus corações. Era impossível não se admirar com eles, talvez você já tenha até mesmo sido um deles.
Suas reuniões eram o ápice de todo relacionamento humano, uma folia de sensações e energias. Você poderia facilmente se perder em uma daquelas conversas e nunca mais querer voltar. Poucas coisas são tão atraentes quanto sentir-se exuberante.
Eles não tinham um lema, e nem eram muito parecidos entre si, mas de algum modo eles se encaixavam de uma forma tão singular quanto o quebra-cabeças mais complexo que se pode imaginar.
Eu os observei certa tarde enquanto o sol ia se pondo, foi emocionante, sentavam-se juntos mas não pronunciavam uma palavra sequer, o máximo que faziam era virar levemente a cabeça e olhar nos olhos uns dos outros. Era a mais perfeita sintonia, uma visão sublime. Foi nesse momento que pergunta surgiu em meus pensamentos: para onde eles vão?
Na verdade não foi só uma pergunta mas sim uma serie de indagações. Mas todas elas estavam voltadas para o futuro daquele grupo.
Quisera eu nunca ter me permitido pensar naquilo. Malditas perguntas, maldito futuro.
Aos poucos, não muito tempo depois daquele por-do-sol, eles foram sumindo. Deixaram um rastro pequeno e sutil, de forma que já não se sabe que caminho tomaram. Ao tentar investigar o que de fato aconteceu parti em direção a trilha que os garotos haviam feito. A primeira pista que encontrei foi um amontoado de roupas, eles haviam se despido de tudo aquilo que eram e deixado pra trás. Não preciso dizer o quanto me marcou aquela cena, me ajoelhei e pedi a Deus que deixasse eu os encontrar.
Mas a frente reparei que as trilha seguia em diversos caminhos diferentes. Não fiquei tão chocado quanto esperava, e decidi percorrer trilha por trilha. Um longo período eu passei me enveredando por aqueles caminhos. Não consegui percorrer nenhum até o fim, eles sempre fechavam-se em determinados pontos. Mesmo assim encontrei uma variedade enorme de pistas ao longo do percurso. Estavam sempre lá no meio do caminho, as vezes no chão, outras meio que enterrados, ou mesmo apenas uma pequena parte, mas eu sempre os via. Os sonhos.
Vi não somente os sonhos, como também: amor, ódio, arrependimento, segredos, lágrimas, alegria, tristeza, e tantos outros. Ficaram todos no caminho.
Não posso afirmar o que aconteceu com os garotos, há alguns que dizem que simplesmente a vida aconteceu, eu discordo. Acredito que foram tão a fundo naquelas trilhas que já não saberiam voltar, mesmo que o quisessem. Deixaram tudo que possuíam de valor ao longo do caminho, de forma que devem estar vazios, e assim sendo não posso imaginar que tipo de vida vivem.
Eu acabei me perdendo também, mas graças a tudo que eles deixaram pra trás consegui me guiar de volta.
Hoje vivo uma vida plena e satisfatória, mas de vez em quando sinto falta dos garotos dos sonhos perdidos e de tudo que representavam. Gostaria de um dia qualquer parar meu carro num sinal vermelho e reconhecer no carro ao lado um daqueles garotos, e não apenas mais um estranho. Sei que eu acenaria pra ele e, mesmo que ele não acenasse em retorno, eu voltaria pra casa feliz. Afinal já não encontro um daqueles garotos desde que eu era um garoto também.
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