Primeira Parte
Hoje é mais uma sexta-feira de janeiro. O sol vai se escondendo por trás das nuvens cinzas e esfumaçadas de mais uma tarde na cidade de São Paulo - fugindo da rotina de um dia árduo. Sabe-se que o astro-rei executa suas funções determinadas pelos segredos universais ou manipuladas, por este lado terrestre: o Brasil de Caipora, Macunaíma, das estórias e crenças populares, e abandonadas ao descaso das letras pelos homens letrados. Ainda existem togas e fardões ou mesmo ternos de autoridades ultrapassadas.
Alguém já aplaudiu um dia sem sol? E se o nosso amigo esquenta moral saísse de férias - dez dias apenas - sem avisar aos terráqueos paulistanos? O que seria da farofa e do pagode, na Baixada Santista? Podem ter certeza de que o Sistema Solar ficaria na rotina, em órbita, e ouvindo milhões de críticas... Talvez palavrões computados nos orkuts e blogs da vida!
Segunda Parte
Eu sou brasileiro e antigo morador da metrópole paulista. Não nasci aqui! Gosto desse lugar e pretendo morrer cheirando fumaça, bebendo caldo-de-cana e comendo pastel e pizza! Sei que o paulistano é pacífico, trabalhador, festeiro, amigo de todas as nações do mundo: cosmopolita. Gosta de futebol, cerveja e churrasco nos fins de semana. A praia é o seu programa preferido de sábado e domingo. O programa Sílvio Santos é a segunda opção dominical! Gugu, Raul Gil e Faustão - na televisão - brincam e brigam com os artistas.
E se a estrela maior - o sol - não sair com aquela cara de primavera-verão? Com a certeza das observações empíricas, posso afirmar que nossos amigos Zés ou Marias irão chiar: pô, esse cara chamado sol é forgado! Isso é hora de pará de trabaiá e deixá a gente sem o calorzim? Agora as minas não vão pegá uma cor! As academias vão inchê a bunda de dinhêro! É bronzeamento artificial, sacou? Demoro, mano! E quem ficará cum nós? Lá no pagode e geladinha (cerveja) não vai ter mina... Justo hoje que o Corinthians montou um time, pra ganhar qualquer campeonato do mundo! Nem São Jorge não vai lutar com o dragão.
Terceira Parte
Imagine você, em uma praia paulista dos seus sonhos: depois de duas ou três horas viajando, engarrafamento, pedágio, cinquenta quilos de farofa e frango assado nas bagagens, naquela lata velha parecida com um ônibus de turismo, fretado por um assistente de atravessador de viagem e com oitenta passageiros disfarçados em 45! Parece a mesma cena surrealista vista por muitos brasileiros nos aeroportos, nos últimos feriados! Talvez fosse um sábado! Ou quem sabe, domingo! Isso lembra cegonha... Desculpe: Congonhas!
Reze pela sorte grande! O ônibus (aquele citado no último parágrafo) desceu a serra com os pneus carecas, velocidade de cem km/h, licença rodoviária vencida e o motorista com o sono dos justos. Será que trinta reais (trinta mangos para o cafezinho do fiscal) na primeira parada técnica ou vistoria, não é um puta prejuízo? E aquele som eclético marcado por um surdo, pandeiro, reco-reco, agogô, tantã e cavaquinho (às vezes desafinado), tocando o mesmo lá-rá-lá e machucando os tímpanos do amigo e inimigo do verdadeiro samba? Caro leitor ou crítico literário: só falta a cachaça com cinzano pra mandar um cidadão ao velório! Será que São Paulo é o túmulo do samba? Será que depois de todo o sacrifício narrado, o amigo sol tem o direito de deixar essa moçada à procura de outras praias? Não é justo... Só rindo. Desculpe! Lembrei-me da represa de Guarapiranga! Será que ainda continua poluída?
Quarta Parte
Analisando o conflito e procurando fugir de qualquer situação constrangedora (por entender que grandes ou pequenas estrelas não brilham quando existem nuvens de chuva), a recusa à função de crítico, mensageiro de puxa-saco, e crítica ao criador do Universo talvez sejam sensatas. O sol trabalha e brilha quando quiser! Não será qualquer paulistano, paulistana, surfista, farofeiro, cervejeiro, rabista-de-galo de praia, desquitado, amancebado ou aventureiro do texto alheio, que modificará as regras milenares. O sol é o sol! E só! Pronto! Falei tá falado! Politicamente correto! Ditador barato!
Sabe-se da existência de vozes descontentes, debaixo de alguns coqueiros e palmeiras, nas praias e avenidas Paulistas, Rebouças, que não consolam ou são da Consolação. O Ibirapuera e Aclimação, tão tons e equilíbrio. São sombras! Talvez com pouca ou nenhuma fonte de luz! Será que não são apenas turistas que detestam pegá uma cor? E nesse lero-lero de lazer, os aprendizes de paulistanos comem jabá ao nascer e pôr-do-sol, na praia de fulano ou sicrano! O sol brilha dias sim e dias não, com um olho aberto, luminoso, dando o tom de vida! Viva a luz!
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