Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
ESTÁGIO: ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE PROFISSIONAL
Robério Pereira Barreto

Resumo:
Este texte discutir o estágio, na prática, como um espaço de aperfeiçoamento e aplicabilidade de fundamentos teóricos na práxis educacional do graduando. Reconhecendo que, Embora nesse espaço nem sempre reconhecido como lócus de formação, é através da interação com o professor-regente e os alunos, que o licenciando inicia seu processo de (re) constituição de seu saber e prática docentes até então vivenciados na sala de aula na universidade. Palavras-chave: Estágio; Estudante - estagiário, Ensino de LE; Identidade.

     Este texto faz uma discussão a partir de recensão teórica sobre o ideário educacional criado acerca da prática de ensino e do estágio supervisionado nos cursos de licenciaturas, sobretudo Letras, pautando-se nos fundamentos legais das leis 5.540/68 e 5.692/71 até 9.394/96 combinadas com os PCN-LE/1998, posta as evidências de que teoria e prática no curso de formação de professores se constituem numa dicotomia, uma vez que são freqüentes os relatos dos estudantes sobre a falta de diálogo entre a realidade teórica apresentada na sala de aula e realidade da escola, lócus de observação e teoria acessada nas aulas de prática do estagiário na academia.
     Nesse sentido, o estágio, na prática, é um espaço de aperfeiçoamento e aplicabilidade de fundamentos teóricos na práxis educacional do graduando. Embora nesse espaço nem sempre reconhecido como lócus de formação, é através da interação com o professor-regente e os alunos, que o licenciando inicia seu processo de (re) constituição de seu saber e prática docentes até então vivenciados na sala de aula na universidade. Portanto, Prabhu (1987-1990) centraliza a discussão da profissionalização do estudante-estágiário por meio desse contato inicial com os agentes educacionais efetivamente localizados, professores e alunos.
     Por isso, se se seguirá ainda as orientações de (Tardif (2005), Perrenoud (2002), Fazenda (2002); Almeida Filho (2000); Hymes (1998), PCN-LE (1998), LDB (1996) e outros para compreende-se os imbricamentos da teoria e prática na ação docente relativa à formação de estudante-estágiário.
     Assim, o estágio precisa ser visto como lugar de aprendizagem real, e a sala de aula é o ambiente para isso. Portanto, o estudante-estágiário no curso de letras, esteja ele atuando com língua materna ou estrangeira (LE), deve levar em consideração a comunidade na qual atua, construindo um planejamento que motive a participação de todos na resolução das demandas reais para a melhoria na aquisição da língua, evitando assim, que a teoria seja evidenciada em detrimento do planejamento e da ação prática.

Dessa forma, as orientações de estágio têm sido dirigidas em função de atividades programadas a priori, sem que tenham surgido das discussões entre educador - educando, no cotidiano da sala de aula, da escola. Assim, o conhecimento da realidade escolar através dos estágios não tem favorecido reflexões sobre uma prática criativa e transformadora nem possibilitado a reconstrução ou redefinição de teorias que sustentam o trabalho do professor. (PICONEZ, 1994, p. 17).


     O estágio nesse sentido passa a ser o lugar da construção da identidade profissional do estudante, porque é a partir dai que se descobrem suas potencialidades e possíveis metodologias para resolução de processo que, no caso do ensino-aprendizagem de LE, necessita de maior observação, visto que os aprendizes mostram reações diferentes à metodologia apresentada pelo estudante-estágiário e o professor regente.


Na teoria, um profissional deve reunir as competências de alguém que elabora conceitos e executa-os: ele identifica o problema, apresenta-o, imagina e aplica uma solução e, por fim, garante seu acompanhamento. Ele não conhece de antemão a solução dos problemas que surgirão em sua prática; deve construí-la constantemente ao vivo, às vezes, com grande estresse, sem dispor de todos os dados de uma decisão mais clara. Isso não pode acontecer sem saberes abrangentes, saberes acadêmicos, saberes especializados e saberes oriundos da experiência. Um profissional nunca parte do nada, tenta não reinventar a roda, considerando as teorias, os métodos já testados, a jurisprudência, a experiência, os gêneros consagrados (Clot, 1999) e o “estado da arte (PERRENOUD, 2002, p.10)


Todavia é comum ocorrer durante a preparação das atividades, por parte dos estudantes-estágiários, subestimação ou superestimação da capacidade dos aprendizes na sala de aula, da escola, colocando em xeque as metodologias até então usadas pelo profissional da unidade escolar. Isso normalmente acontece quando o lócus é a escola pública.
     Desse modo cabe reforçar, é durante o estágio que o graduando volta-se para o desenvolvimento de uma ação vivenciada, reflexiva e crítica e, por isso, deve planejar suas atividades de maneira gradativa e sistematicamente fundamentadas em pressuposições teórico-metodológicas com vistas à resolução de problemas pontuais no ato de ensinar. “a prática profissional consiste numa resolução instrumental de problemas baseada na aplicação de teorias e técnicas científicas construídas em outros campos [...]”. (TARDIF; RAYMOND, 2000, p.2)
     Por ser uma disciplina obrigatória no curso de licenciatura, o estágio, como prática pedagógica tem papel decisivo na formação do aluno, possibilitando-lhe a inserção na prática profissional e, por isso, é pertinente que se assegurem meios para que todos os estudantes nessa fase sintam-se seguros para observar, planejar e executar as atividades nas unidades educacionais, podendo assim, realizar significativas trocas de saberes. Até porque a aquisição de saberes profissionais por parte do estudante acontece por meio de relações e trocas num contexto de trabalho, conforme Tardif afirma:

[...] o saber e sempre o saber de alguém que trabalha alguma coisa no intuito de realizar um objetivo qualquer. Além disso, o saber não é uma coisa que flutua no espaço: o saber dos professores é o saber deles e está relacionado com a pessoa e a identidade deles, com a sua experiência de vida e com a sua história profissional, com as suas relações com os alunos em sala de aula e com outros atores escolares na escola, etc. Por isso, é necessário estudá-lo relacionado-o com esses elementos constitutivos do trabalho docente. (TARDIF, 2002, p. 11).
     
     Com efeito, cada realidade cobra do estudante-estágiário, referências muito concretas e, às vezes, específicas em função da necessidade que ela atende e que são fundamentais da profissão, aplicadas àquela realidade particular. Assim, considera-se que as experiências selecionadas e que tenham algum nível de conexão e de organização com o contexto sócio-cultural, permitindo assim, que o conjunto de questões tenha ressonância para a formação do estudante como profissional de visão ampla, formando assim,


[...] o modelo do professor-pesquisador multiculturalmente comprometido pode representar uma via pela qual conexões entre o universo microssocial da sala de aula e a realidade cultural e social mais ampla possa se efetuar, com vistas a possibilitar desafios a discursos que congelam identidades e reforçam preconceitos. (CANEN, 2005, p. 3).

     Nesse sentido, é preciso que se tomem alguns cuidados na preparação e aplicação das atividades, visto que os estudantes-estágiários são motivados para a ação e, num passe de mágica querem mudar a realidade, exigindo o máximo de si e, automaticamente, transferem essas expectativas para a comunidade escolar, criando assim desconfortos entre alunos e professor regente da sala.

Desse modo, o modelo do professor-pesquisador multiculturalmente comprometido pode representar um possível caminho de transformação da desigualdade educacional que atinge, justamente, grupos culturais e étnicos cujos padrões não estão contemplados nos discursos curriculares abraçados pela escola. (CANEN, 2005, p. 3).

     
     Além disso, são notórias as dificuldades institucionais enfrentadas pelos estagiários no que se refere à defasagem de recursos. Além disso, têm-se as resistências naturais ao que é novo por parte dos professores que, na maioria das vezes, consideram o estagiário como um concorrente, sobretudo, no campo das língua(gens).
     Nesse contexto, o estágio passa a ser postulado como aglomerado de causas anteriores, isto é, o estudante é levado a recordar e aplicar conceitos e fundamentos teóricos, de acordo com a representação social na qual lhes são solicitadas ações interventivas, assim o estágio é considerado um dos pilares constitutivos da formação acadêmica do estudante, que se concebe como uma rede de crenças , saberes e desejos nomeados.
     Dessa maneira, formula-se o pensamento de que o estágio está sustentado na base epistemológica do conhecimento, pois precisa de organização científica, ou seja, o estudante deve planejar sua ação a partir da perspectiva de que a remissão aos conceitos, proposições e métodos é aportada em teorias bem definidas. No caso de estágio em língua(gens), certamente as teorias lingüísticas e ensino-aprendizagem são fundamentais, porque determinam o lugar de erudição e capacidade de sistematização do estágio a respeito da temática proposta no projeto de estágio.
     Nessa perspectiva, é importante ressaltar que, na prática, o estagiário passa a conviver com o binômio: conhecimento sistematizado – crença, sendo que as crenças advêm de determinadas concepções a respeito de determinado aspectos da realidade. Com isso, amplia-se o processo de construção e socialização dos saberes na sistematização das atividades do estágio por parte dos estudantes, de tal modo, que é preciso verificar e seguir paradigmas estabelecidos pelas “práticas discursivas” que, em sua autonomia determinam a pratica sócio-educacional.


Em várias outras ocupações – e é o caso do magistério –, a aprendizagem do trabalho passa por uma escolarização mais ou menos longa cuja função é fornecer aos futuros trabalhadores conhecimentos teóricos e técnicos preparatórios para o trabalho. Mas, mesmo assim, raramente acontece que essa formação teórica não tenha de ser completada com uma formação prática, isto é, com uma experiência direta do trabalho, experiência essa de duração variável e graças à qual o trabalhador se familiariza com seu ambiente e assimila progressivamente os saberes necessários à realização de suas tarefas. (TARDIF; RAYMOND, 2000, p.2)

     
     Para Foucualt (2000) essas formações discursivas dão conta de que há na realidade dos sujeitos do discurso – estagiário, professor e aluno – comportamentos, conflitos frutos de uma “arqueologia do saber” consignada nos relacionamentos com ideologias que, sem dúvida, cria uma espécie de cultura escolar na qual saberes e conhecimento se imbricam, pois nascem de fontes variadas: mídia, política, regionalismo, etc. A partir disso, o estágio é envolvido por vários discursos, incluindo o da cultura escolar no qual se cria, por si mesmo, uma saber específico que, na maioria das vezes, é confrontado com a realidade. De um lado o conhecimento sistematizado já incorporado pelo corpo social da escola; do outro os conhecimentos disponíveis na cultural geral, menos elaborados, provenientes do cotidiano.
     De acordo com Perrenoud (2002) é nesse momento em que o estagiário entra em conflito por que é hora de abandonar o lugar de fala de estudante e iniciar o discurso de profissional responsável “[...] está abandonando sua identidade de estudante para adotar a de profissional responsável por suas decisões.” (PERRENOUD, 2000, p. 18) e tomar decisões e responsabilizar-se por elas no âmbito da sala de aula.

O principiante precisa de muita energia, de muito tempo e de muita concentração para resolver problemas que o profissional experiente soluciona de forma rotineira. O iniciante está em um período de transição, oscilando entre os modelos aprendidos durante a formação inicia e as receitas mais pragmáticas que absorve no ambiente profissional. (PERRENOUD, 2002, p. 18).


     O estudante-estágiário constitui-se na relação com o ambiente educacional ao qual passa a pertencer e, com isso, se torna um agente de transformação à medida que inicia processo de (self-study) uma pesquisa investigativa de sua prática pedagógica, vindo, dessa maneira se auto-afirmar como futuro professor.
     Conforme Fiorentini (2004) “o futuro professor, assim, qualifica-se para estabelecer com autonomia o diálogo cultural entre esses diferentes mundos, pois é por meio dele que produz seu trabalho docente e constrói sua identidade.” (FIORENTINI, 2004, p.256).
     Do ponto de vista da didática, o estágio deverá servir como fonte de reflexão sobre os aspectos teórico-práticos do processo de ensino e aprendizagem. Trata-se da única ponte (elo) possível de tornar concreta a fundamentação teórica e a prática educacional.
     Nesse sentido, a observação em sala de aula e, também a regência de sala, passam a sustentar os pensamentos obtidos em aulas teóricas. Com isso, o estudante-estágiário emerge na realidade e passa a construir suas reflexões enquanto futuro profissional. Com efeito, isso leva ao entendimento de que

O processo didático se explicita pela ação docente; ensinar, aprender, pesquisar e avaliar; o processo didático vincula-se á relação professor-aluno por meio do conhecimento e permeado pelas intencionalidades sóciopolíticos e pedagógicas, analisando criteriosamente a cada uma das dimensões e quais os seus significados. (VEIGA, 2004, p.13).


     Assim sendo, cabe à instituição de ensino-aprendizagem orientar o estudante-estágiário na aplicação dos elementos sócio-cultural demandados pela unidade escolar onde está atuando com agente de intermediação entre o saber sistematizado da teoria e a ação prática da sala de aula.

Referências

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional, Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.



     


Biografia:
Professor, EscritoR, Poeta, minicontista e haicaísta
Número de vezes que este texto foi lido: 52924


Outros títulos do mesmo autor

Poesias HAICAI Robério Pereira Barreto
Poesias SINAL DE UM AMOR Robério Pereira Barreto
Poesias FRAQUEZA Robério Pereira Barreto
Poesias SOZINHO CHORO Robério Pereira Barreto
Poesias SUA VAGA Robério Pereira Barreto
Artigos ENSINO-APRENDIZAGEM SOCIOINTERACIONISTA DE LEITURA Robério Pereira Barreto
Poesias APÓCRIFO Robério Pereira Barreto
Poesias HONRA À LUA Robério Pereira Barreto
Poesias DIBUJO DE AMOR Robério Pereira Barreto
Artigos UMA SEMIOSE DA CORRUPÇÃO POLÍTICA NO BRASIL XXI Robério Pereira Barreto

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 95.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
JASMIM - evandro baptista de araujo 69089 Visitas
ANOITECIMENTOS - Edmir Carvalho 57985 Visitas
Contraportada de la novela Obscuro sueño de Jesús - udonge 57643 Visitas
Camden: O Avivamento Que Mudou O Movimento Evangélico - Eliel dos santos silva 55916 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 55235 Visitas
Entrevista com Larissa Gomes – autora de Cidadolls - Caliel Alves dos Santos 55223 Visitas
Caçando demónios por aí - Caliel Alves dos Santos 55103 Visitas
Coisas - Rogério Freitas 54982 Visitas
ENCONTRO DE ALMAS GENTIS - Eliana da Silva 54976 Visitas
Sobrenatural: A Vida de William Branham - Owen Jorgensen 54974 Visitas

Páginas: Próxima Última