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Alma Negra
Valdecir dos Santos

Sou negro, sim!
Sou brasileiro,
Sou o tempero
Deste terreiro.

No sangue das minhas veias
Corre a dor de um povo sofrido
Correm lágrimas de almas feridas
Correm lamentos de um passado esquecido

Fingido

Eternecido

Adormecido

Pouco reconhecido

Passado de gemidos

Que Castro Alves lembrou
Em Navios Negreiros
Lástimas, peste, solidão.
Saudades de minha terra,
Dos meus irmãos
Triste solidão

Sonho iludido, vendido
Consciência insana,
Muita gente ainda diz:
Que bacana!

Passado de gemidos
Em campos, lavouras, canaviais
Lindas paisagens, dos senhores
Feudais, escravocratas, maiorais

A pele de meus pais
Ficaram na ponta do reio do ioiô
No cabo da enxada, os duros calos de suas mãos
Foram deixados.
Minha mãe virou Mucama
Ama de leite para o os filhos de ioiô
Matar a fome
A força de meus irmãos a foice a tomou para si
Minha irmã dava mamar
Quando o peito secou
A negra, pobre negra
Secou seu olhar

Continuo sendo bem brasileiro
Tempero quente deste terreiro
Lábios carnudos, pele azulada.
Alma gentil da Pátria amada


Discriminação à flor da pele
Nas agências bancárias
Nos telejornais
Na televisão
Nos altos cargos deste país
Alienação
Falta de inteligência X cor de pele negra
Segregação
Diz o Cidadão:
Em minha escola
Negro! Não.

E você, loirinha
Dos lábios grossões
Em tuas veias
Com certeza, corre o sangue
De um negrão
O resultado de uma mistura
Entre as diferenças
De cidadãos


Cor de pele
Sem expressão
A voz de Mariazinha
Nos fundos da
Sala de aula
Pedindo um lápis emprestado
Cor de pele
Pergunto-lhe:
Cor de quê?
Responde ela na simplicidade
Do sentido, produzido, fabricado
Cor de pele, professor!
Pele de gente!
A pobre alma da Mariazinha
Queria um lápis de cor quase rosa
Ou quem sabe, quase branca

Aprendeu assim, está crescendo assim
Desse jeito, quase perfeito
Não fosse a ignorância
Na pobre alma daquela criança

Uma insolente tristeza
Invade meu ser naquela hora
Abaixo a cabeça
E, me pergunto:
Pele de gente?
Eu não sou gente!
Meus pais não são gente!
Maria Clara!

Que cultura
Da Mariazinha
Que, na automação do sentido,
Determina-lhe ser, assim, exatamente.

Assim como Mariazinha
Existem muitos Joõezinhos,
Pedrinhos, Fernandinhos,
Aninha Clarinha

Reproduzindo o ignóbil
O senso comum
A ignorância
Herdada de uma cultura
Uma educação
Volátil, palpérrima
Discriminatória, intrigante
Frágil, cega, triste, pueril
Pecaminosa, imbecil,
Falto de entendimento
Constrangedora
E todos quantos adjetivos mais
Forem necessários
Para acordar o Brasil
Do pesado sono da ignorância
E mostrar a riqueza
Do brasileiro
Mistura linda
Deste terreiro.






















Biografia:
Valdecir dos Santos – Docente na Rede Estadual de Ensino de MS Pós-Graduado em Língua e Literatura Professorvaldecir.santos@gmail.com
Número de vezes que este texto foi lido: 52903


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