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Maldita overdose
Maldita overdose: uma peça em três atos
Aderlan Gonçalves Almeida

Resumo:
Resumo: A peca apresenta as crises nos relacionamentos entre os membros de uma família pós-Moderna a esposa sai de casa cedo para trabalhar todos os dias e ao retornar encontra sempre o marido cuidando da casa, pois está desempregado. Ela reclama porque tem que sustentar a família sozinha provocando brigas e a separação do casal. A filha mais jovem, por se sentir só e revoltada com a separação dos pais e, recebendo a influência de uma amiga, se envereda no mundo das drogas e morre de overdose. Depois de algum tempo o pai lança um livro que é premiado num concurso literário e é contratado para um novo emprego.




     Época: ATUALIDADE (Ambiente pós-moderno que envolve questão de corrupção, crises nos relacionamentos e crises de identidades).




PERSONAGENS:


MARTA (Esposa de Gil, com quem tem duas filhas; Thaís e Maria Eduarda – é uma médica que vive estressada, tanto porque trabalha demasiadamente, como também, por causa do marido que não sai para procurar emprego; é explosiva).
GIL CAMÕES (O esposo – Gosta de usar roupas simples; é professor universitário e também, poeta, irônico, metafórico, cômico diante das adversidades, sentimental, linguagem literária)
THAÍS (A filha rebelde – estudante do ensino médio; adolescente que segue as ditaduras da moda; idade 15 anos, 1º momento: carinhosa, dedicada aos estudos, equilibrada, apegada ao pai, sonha em ser modelo; 2º momento: rebelde, usuária de drogas).
MARIA EDUARDA (A filha comportadinha, 21 anos, universitária – 7º Período de Medicina – Moderada, tímida, dedicada aos estudos, carinhosa, muito sensível).
TOQUINHA (Amiga de Thaís – Adolescente, idade 17 anos, roqueira, traficante e usuária de drogas, ladra, fala usando gírias).


PRIMEIRO ATO
(cenário: espaço interno da casa do casa. Sala espaçosa com mesa, cadeiras, carpete, acessórios ornamentais e mesa com computador).


NARRADOR – SEGUNDO O DICIONÁRIO Aurélio, família é um grupo de pessoas ou coisas que, por algum critério, possuem características comuns. Coisa? Critérios? Características comuns? Isto ainda é possível de se afirmara hoje em dia?

I CENA

(Maria Eduarda deitada no carpete lendo um livro; Thais á mesa fazendo trabalhos escolares; Gil Camões digitando um texto. Marta chega do trabalho)
Marta (Entrando, vai até os lugares onde as filhas estão e as beijam) – Muito bem meninas! Estou gostando de ver o empenho de vocês nos estudos.
Gil (Para de digitar e vira-se para esposa) - Oi amor!
Marta (sem olhar para o marido) - oi!
Gil - Como foi o seu dia?
Marta (Deixando a bolsa na mesa) _ Estressante, como sempre. Apenas duas médicas para atender 120 pacientes por dia, isso, causa estresse em qualquer vivente, você não acha?
Gil - É verdade! Também, os senadores não aprovaram a CPMF o ano passado. Você sabe! A taxa tributária brasileira é a menor do mundo, com isso o governo não pode contratar mais médico.
Marta - Você e suas ironias, Gil!(com uma maçã) Por falar em ironia... Já vendeste alguns dos teus livros?
Gil - humm! Ai é que tá! Neste período pós-moderno, livros de poesias não têm boa venda.
Marta - E isto, eu serei a provedora deste lar e você? Um simples marajá.
Gil (Levando da cadeira) - Calma ai! Marajá não! Você bem sabe que fui demitido o mês passado por conta daquele escândalo envolvendo o Reitor da faculdade Carlos Drumonnd de Andrade.
Marta - Quem manda viver essa vida de boêmio, bebendo nos botequins e revelando segredos escondidos às sete chaves.
Gil - Você acha justo ser conivente com a corrupção?
Marta – (agressiva) - O que não acho justo é ser provedora de um lar e morrer de trabalhar e sustentar um homem que fica de pernas pro ar.
Gil (irritado) - Marta!!! Eu não sou vagabundo.
Marta – (quase gritando) - Sendo vagabundo ou não, você precisa tomar uma decisão. Ou você arruma um emprego, ou...
Gil - Ou o que?
Marta - Ou arrume as suas malas e dê o fora da minha casa.
Thais (levantando-se da cadeira) - Mãe! Você não pode expulsar papai da nossa casa. É ele quem cuida de nos enquanto você esta fora.
Maria Eduarda (deixando o livro de lado) - É isso ai, Thais! Mamãe, vocês já têm 22 anos de casados e tiveram um bom relacionamento. Como vamos viver sem o nosso pai?
Marta - Como todos os filhos e filhas de pais separados
Gil (abraçando as filhas) - É isto mesmo minhas filhas, sua mãe tem razão! Nossa relação já não tem futuro.
Thais e Maria Eduarda – por favor, papai, não vai!
Gil – Vai se r melhor para todos nos. Vocês, os frutos do amor que havia, jamais serão esquecidos por mim. Como você jovens dizem, já fui!!!

SEGUNDO ATO

A mãe retornando para o trabalho; a irmã mais velha indo á faculdade; em casa da mãe a filha mais nova ouvindo rock. Chega uma amiga.

TOQUINHA (gritando)-Thais!!! Abri aqui!!!
THAIS - Já estou indo.
TOQUINHA (mascando chiclete) – Oi, o que foi que aconteceu?
THAIS – Minha mãe expulsou meu pai de casa!
TOQUINHA – Caraça!!! Irado!!!
THAIS – Ela não podia ter feito isso. O que vai ser de mim? De minha vida? Meu pai era meu único refúgio nesta casa. A única pessoa que me dava atenção.
TOQUINHA – Você precisa sair dessa! Tenho algo que vai te fazer sentir melhor.
THAIS – Sentir melhor? Não vê como estou? O que haveria neste mundo para me ajudar
TOQUINHA - Ah! Isto vai te ajudar a relaxar! (mostra um pouco de pó branco)
THAIS – O que é isso? Cocaína?
TOQUINHA - entremos no carro que no caminho eu te mostro.
THAIS (as duas entra no carro) – ok! Então vamos.
TOQUINHA (mostras um pouco de pó branco) - veja só isso.
THAIS - O que é isso? Que pó branco é esse?
TOQUINHA – È o pó da felicidade. Quando você o usa, você tem o poder de ser Deus ou o Diabo...
THAIS - Eu não quero ser Deus nem mesmo o Diabo. Eu só gostaria que meus pais não estivessem separados.
TOQUINHA - Com esse pó você pode resolver isso, Thais.
THAIS - Não compreendi Elizângela!
TOQUINHA – Toquinha! Pode me chamar de Toquinha mesmo. Na minha turma todos me chamam de Toquinha.
THAIS - Certo! Toquinha! Mais o quê esse pó tem a ver com a separação dos meus pais.
TOQUINHA - Tem que se você usar, eles vão se unir novamente. Esse pozinho tem o poder mágico de unir os casais, só por causa dos filhos usuários.
THAIS - Então me dê um pouco. Cheira o pó e fica totalmente eufórica. (Aumenta o som e começa a dançar)
TOQUINHA (quase gritando) – E aí, a sensação é maravilhosa não é?
THAIS Muito boa! Coisa de outro mundo!!! Sinto-me leve...
TOQUINHO (atendendo o celular) – Fala ai!...Tô indo! (despedindo-se) Até mais amiga!


NARRADOR – a se3nsação de leveza de Thais prosseguiu durante muitos meses. Marta sempre ocupada com o trabalho, Gil preocupado em terminar seu livro e sua irmã Maria Eduarda compenetrada nos estudos e no estágio. Mas na vida, tudo tem um preço.

No carro, depois do uso da substancia proibida as adolescentes quase se tornam vítimas um acidente, por pouco o carro não colide com um poste.

TERCEIRO ATO

I CENA
(meses depois, na casa de Marta o celular de Thais toca, como ela não estava no momento. Marta, a mãe, atende).


MARTA-Alô!Quem é? Dinheiro da farinha? Que farinha? Desculpe meu senhor, aqui não e supermercado, não vendo e nem compro farinha.
MARIA EDUARDA - Quem era mãe?
MARTA (indignada) – Onde já se vi? Só por que moramos no nordeste as pessoas pensam que todos nós comemos farinha. Que mania de rotular as pessoas.
MARIA EDUARDA - Olha só mamãe, estou lendo um livro que aborda exatamente este assunto “a invenção do nordeste”, a construção dos estereótipos nordestinos.
MARTA - Maria Eduarda... Eu mão entendi porque o homem ao telefone estava cobrando o dinheiro da farinha á Thais, se ela nem ao menos faz compras no supermercado?
MARIA EDUARDA - Mamãe! A senhora disse que havia um homem fazendo cobrança do dinheiro da farinha a Thais?
MARTA - Sim, filha!
MARIA EDUARDA - Meu Deus, meu Pai do céu, ai Jesus de Nazaré!
MARTA - O que foi Maria Eduarda? Você está me assustando.
MARIA EDUARDA - Mamãe, Thais pode está envolvida com drogas.
MARTA - O quê?
MARIA EDUARDA - Os traficantes usam essa expressão para determinadas drogas.
MARTA – Drogas?!? Imagine se minha usaria drogas?! Deve ter sido engano.
MARIA EDUARDA – Se preferes crer nisso... (volta a se concentrar nos estudos)
MARTA (preocupada) – Olha filha, preciso trabalhar, já estou atrasada, depois conversamos sobre isto (beija a filha e sai de cena) – A Thais usando drogas, não me faltava mais nada.
II CENA
(alguns minutos depois, entra Thais passando mal, cai no carpete da sala. Maria Eduarda corre para socorrer a irmã).
MARIA EDUARDA – (aflita) – Thais!!! O que aconteceu? Fala comigo. Meu Deus! Preciso avisar a mamãe.... Alô mamãe?!? Venha rápido para casa, a Thais não está passando bem... Vou ligar para o papai... Papai, a Thais tá passando mal, venha aqui! Por favor!
(Gil chega antes de Marta e desespera-se ao ver a filha ao chão. Chega, abraça e põe a cabeça da filha no seu colo)
GIL - (entra correndo, abraça a filha) – Filha! Minha filha! Oh, filhinha minha! Por que fizeste isto consigo?
THAIS – (agonizando) – Foi o pozinho, pai. Foi o pozinho “unidor” de casais. (dá o ultimo suspiro e morre)

(Entra Marta)
MARTA – (desesperada) – O que aconteceu?... Thais!!! Ela está sem pulso! Meu Deus, como isso foi acontecer?!
(todos choram)
MARTA – (soluçando) – Vamos levá-la para o quarto. (todos saem de cena carregando o corpo de Thais).
NARRADOR – Dias depois Gil recebe uma carta convocando-o para participar da entrega do prêmio “Machado de Assis”. Pela Fundação Petrobrás, no Teatro Castro Alves.

III CENA
Espaço cultural

O APRESENTADOR – A Fundação Petrobrás tem a honra em convidar a tribuno para receber um dos maiores prêmios da Literatura Brasileira, o poeta Gil Camões. Ele estará apresentando uma das suas poesias do seu livro “SOCIEDADE PÓS-MODERNA”.
GIL - (dirigindo-se ao público) – Em outras circunstancias, esse seria o dia mais feliz da minha vida, porém hoje, não o é. Quero aqui apresentar minha filha gerada na dor, minha poesia “MALDITA OVERDOSE”.


MALDITA OVERDOSE


Oh! Maldita overdose!Lembrar-me-ei
Daquela que para trás deixei
Fazendo uso da morte, sendo narcose.
Foi regida por uma superdose

Não sou mais sujeito iluminista
Nem tão pouco sociológico
Estou nas rédeas da modernidade tardia
Sofro a mutação identitária

Oh, maldita overdose!           


No labirinto, estou.
Sem fio de Ariadne
Sem ajuda de um Dédalo inventor.
Sou as asas de Ícaro derretidas ao sol

Oh, maldita overdose!

Alguém disse que o poeta é fingidor
Com esse discurso, não concordo.
Eis aqui a razão. Qual parturiente
Assim sou eu, dando ao rebento à dor.

Oh, maldita overdose!


Sinto as contrações vilipendiando o meu ser
Há um rompimento impiedoso
E nesse processo sem fim de rupturas
Deixo eclodir o meu grito de angústia
Pandemônio! Pandemônio!

Oh, maldita overdose!

A minha filha é parricida
Deixei a nascer, porém...
Ela não me deixou viver
E agora além de parricida é suicida!

Oh, maldita overdose!
Tu levaste minha filha
Transpassaste-me com dardo ardente
A minha alma em transe


Levaste-me ao rio caudaloso
Ao oceano lagrimal
Definir-me-ei “poeta maior”
Escritor da epopéia lusitana

Qual poeta lusitano, assim sou eu
Náufrago, vitima das tormentas
Que perde sua Dinamene
Mas, não aos seus escritos.

E assim, vou cantando.
Oh, maldita overdose!
















Biografia:
Sou Aderlan Gonçalves Almeida, nascido a 17 de maio de 1980, filho de João Teixeira Almeida e RAulinda Gonçalves Almeida. Casado com Rosely Barbosa Basto Almeida e pai de Rebeca Barbosa Almeida. Estou cursadno o 6º semestre do curso de Letras Vernáculas - UNEB - CAmMPUS XVI. Sou Presbítero na Igreja Assembléia de Deus na cidade de Lapão e também professor de Língua Portuguesa no Colégio Antonio Marculino em Aguada Nova
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Outros títulos do mesmo autor

Poesias Uma carta a Gonçalves Dias Aderlan Gonçalves Almeida

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Publicações de número 11 até 11 de um total de 11.


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