Vi de saída
quem pouco via
há
meio ano de século.
Estava de cachemira rosa,
-e abatida e dispersa -
Por pouco mais de
meio ano em vi!
- e eram cinco minutos -
Ela vestia-se de velha,
Corpo pendido,
costas arqueadas,
mãos de avelãs.
Mas senti,
na amplidão
daquele encontro sem nome,
que ela existiu.
Pedi perdão a todos,
Não rezei,
porque não sei,
mal o sinal da cruz
me foi pedido.
Olhei pra ela
Ela me olhou.
Sentimos os dois
que 50 anos de verdade
haviam passado.
Isso é verdade !
Mas lá no fundo
daquele corpo
como um poço iluminado,
eu ainda me achava,
e ela também.
Aqueles santos
imóveis pareciam
se deliciar com isso!
Afinal, pra que servem
amores eternos?
E por isso,
num catinho,
sem estrelas,
perto da sacristia,
eu chorei
e me dobrei como uma coluna
imensa.
Lá estava ela,
lá estava eu.
Duas abóbodas de luzes
Sem mais a quem tocar,
Sem a ternura de dias
Sem beijos e abraços
Sem pejorativos,
protocolos e
adeus.
E na minha vida,
Como um santo,
que descobre sua vocação,
me vi diante do tempo:
de um lado ela,
de olhos ternos,
de outros, a eternidade
de cinco minutos.
E pra dizer agora
que um dia
num século desses,
Ela foi Maria José
e eu José Maria.
Mas vi, de saída,
quem nunca mais pensava em ver.
Credo cruz!
Nesta velhice de burrice,
Acontece tanta travessura
que o coração bate mais largo
e a gente acaba acreditando
que em nada,
nada mesmo,
há uma curva
ou uma volta de tempo.
Prá frente,
pardal de meia-idade!
Seu tempo já acabou!
E Maria José se foi,
E José Maria te tocou !
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