LIRA PERDE O SONO
Quem perdeu o sono foi Lira, que voltou à sala, na esperança de levá-lo para a cama, mas acabou felicitando-o ali mesmo. Sentou-se no chão e o abraçou. Depois escreveu:
Minha leve pluma, hoje é seu aniversário, você completa mais um ano de existência, quero que saiba da minha felicidade em tê-lo junto a mim. Quando estou a observá-lo e você pergunta: “O que é que ta “olhando”molher”? Sempre respondo: “Nada”. Mas não é bem assim que a banda toca. A verdade é que não canso de admirar minha obra viva, além da beleza física, olhos meigos, lábios doces, tem um macio caminhar. Está se sentindo feliz, meu passarinho Nicolau? Não é brinquedo não! Acompanhar seu vôo que sobe a cada dia, chegando hoje exatamente aos cinqüenta minutos do dia 20 de janeiro de 1995, na escala da vida 2.1. Meus parabéns. Passarinho voe alto por entre o céu e o mar e cuidado por todo lugar que pisar. Que sua vida se torne glória esses são os desejos de sua mãe e amiga, que agradece a Deus, pois nessa altura da vida viu muitos passarinhos que nasceram em diferentes árvores, existentes no planeta, sem distinção de cor ou raça... Quando conseguem voltar a seus galhos, trazem quase sempre um machucado, por isso agradeço a Deus por sua penugem cair na medida que aumenta sua experiência, isso sim é a ”troca” justa. Então voe meu passarinho lindo, onde exista algodão para seu ninho, encontre atalhos para se desviar dos espinhos e não ferir seu coração.
Às vezes que estou desgalhada, por alguém que precisou de minha “sombra” deixando-me ferida, você pousa, e suas asas tocam meus galhos, mesmo por pouco tempo, sua ”muda” se faz presente e de imediato sinto a maciez de suas penugens serem depositadas com o devido carinho e respeito nas minhas raízes. Então me fortaleço e aqui estou, a velha jaqueira tentando consertar seu fruto esparramado no sofá. Tendo a pretensão de vê-lo, completando o vôo de retorno ao leito. Quem sabe, não agüentando mais voar.
Você, meu filho, será um velho tronco de caráter e terá galhos e folhas para deixar para os passarinhos que você abrigar. Não importando em que árvore retire sua bengala, para suas asas poder descansar. A sua árvore mãe com certeza, em outra vida, sem galhos, sem folhas, na sombra de sua memória vai continuar pintando você no novo ateliê. Que nossas vidas se tornem eternas...
Beijos!
Beijinhos!
E Beijões!!!
Levantou-se e o beijou.
Ele fazendo força para abrir os olhos, perguntou:
_O que está fazendo?
_ Sou eu, sua mãe.
_ Eu hem! Deixa-me dormir, “molher”...
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