O catecismo demorou dias para ser ministrado.
Agora será a eucaristia
Nesta manhã, com os lábios fechados para não pecar,
Contra a Santíssima Trindade e a comunhão realizar.
O jejum não quebraria, nem água ela beberia.
Sua mãe sabia que o pão não comeria.
Sua irmã orgulhosa de costurar a sua roupa,
Agora vai Lira arrumar.
Calça as meias, os sapatos, veste anágua, combinação.
E o vestido farfalhante,
Com flor de sagu leitoso.
Coloca na cabeça o véu,
E a grinalda de flor de laranjeira.
Que bonita ficou Lira!
Quando chegou na escola...
O padre, sorridente, andando de um lado pro outro,
Com a batina quase arrastando no chão e o rosário na mão.
No confessionário improvisado, o crucifixo de Jesus.
E, na parede pendurado, nosso senhor carregando a cruz.
Lira ajudá-lo não podia, pois a historia conhecia.
Ajoelhou, falou:
_ Padre, me perdoe porque pequei.
_O que é que você fez?
Pensou, na diferença dela e do Nito.
_ Pequei, ora.
_ Falou alguma palavra feia?
_ Não padre! Pior muito, pior.
_ Então o que foi filha?
Num estalo, ela disse:
_Fiz careta pra minha mãe.
O padre resmungou, deu um sorriso e a perdoou.
Lira se levanta, olha sob o véu,
Senta-se no banco.
A fila da confissão acabou.
O padre todo paramentado, andando lento e gracioso,
Nas mangas largas de suas vestes, mãos plácidas...
Parecendo as mãos divinas.
A missa começou quando o sininho tocou.
Todo mundo acompanhou com o programa na mão.
A professora distribuiu um lírio para as meninas...
E uma vela para os meninos.
As crianças cantam: “Mãezinha querida, eu não sei rezar”,
Só sei dizer, eu quero te amar...
O padre trazendo uma taça na mão se aproximou,
Ao sinal da professora,
Lira a boca escancarou, pensando no pobre Jesus,
Que morto seria engolido de pedacinho em pedacinho.
Lira, inconformada, com a boca ainda fechada...
Com medo de abrir.
Só tranqüilizou-se, quando viu a colega, a hóstia receber.
Houve um canto de louvor e a missa terminou.
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