Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
FALANDO DE FLORES E ESPINHOS
GILSON CHAGAS

FALANDO DE FLORES E ESPINHOS
- Saudações ao amigo Adalberto Lima.

Além de uma nova criação literária a brotar na seara das letras, esta Senda de Flores e Espinhos – obra memorialista de Adalberto Lima - conduz-me um reencontro de especial simbologia. O autor, um precioso amigo de juventude, partilhou comigo os passos iniciais de um ideal literário que, à época, se nos insinuava como porta para um planeta encantado cujo reino, na pureza da adolescência, sonhávamos descobrir e conquistar.
De outro modo, Adalberto é personagem vivo duma história real em que um grupo de jovens interioranos, malgrado a precariedade dos meios e a incerteza dos fins, ensaiávamos vôos na literatura e “resolvíamos” nossas divergências filosóficas em rodadas de “pitu” e noites de serenatas - estas últimas, às vezes, tão malsucedidas quanto sempre eram as primeiras. .
Nos idos de setenta e um, adolescentes ainda, eu, ele e Odaly Bezerra, outro poeta de mão cheia, dividimos a direção, redação e vendagem do jornal O Brado Estudantil, que tinha como base física, em Picos, o armazém Flor de Lis de seu irmão Assis Lima e o Colégio “Marcos Parente” como mercado-alvo principal.    
Tangidos por uma polivalência forçada, acumulávamos as funções de diretores, jornalistas e jornaleiros: sem mudar a camisa: Captávamos patrocínios, redigíamos os editorias, editávamos as matérias dos colaboradores, supervisionávamos a impressão e vendíamos a tiragem no varejo, percorrendo a cidade, a pé, com os jornais na cabeça.
O Brado, a despeito de uma estréia explosiva (no âmbito do Colégio)     não conseguiu romper os muros da primeira edição. Faltou-nos paciência para esperar nova vaga na pauta da gráfica - de composição manual - que, nas madrugadas de folga, por um preço camarada, nos abrira suas prensas. A gráfica Picos tardava, mas não era de faltar: A próxima impressão sairia num dos meses seguintes, provavelmente ainda no ano em curso, desde que as máquinas não nos pregassem uma peça, entrando em parafuso.
Precipitados, demos destinação nada nobre ao lucro obtido na primeira (e única) tiragem   - Já naquele tempo, as farras eram um pedregulho nas botas da mocidade.
Poucos anos depois, o Banco (do Brasil), para cujo quadro funcional fomos aprovados, levou-nos para praças distantes entre si. Naveguei, desde então, por este Brasil urbano e caboclo, à procura do “caminho para as /índias”. Adalberto, por seu turno, descobre, logo, as Minas (Gerais) de seus novos passos e amores e ali aportou com ânimo de permanecer, “sem medo de ser feliz”.    
Quanto mais se aprofundam as andanças, mas se expandem as fronteiras do coração.   No novo espaço, faz alianças, semeia e colhe afetos, e, quem sabe?, desafetos; constitui descendência; protagoniza comédias e expia seus dramas. Multiplicam-se os cenários e personagens e vai formando suas memórias, para desencavá-las um dia.   Disso tudo emerge agora estas Flores e Espinhos, um baú de contrastes, em que frente e verso se perfilam.   
Neste livro Adalberto resgata imagens remotas e difusas, reconstitui valores que lhe são caros. Reminiscências, “dos tempos em que mulher de vida fácil era difícil”.como está dito no conto “Candim de Mariano”. Outras, no explicar do próprio autor, são fragmentos de memórias, maquiados pela sua imaginação - mas sempre histórias com riqueza lingüística, dosadas de sensibilidade e doçura. .
As “Sendas” têm no trecho inicial relembranças em que pontifica a gente simples das periferias de nossa infância Na quadra seguinte, as histórias   migram com ele para sua fase mineira. Ali, aparece um Piau irreverente e peralta, personagem cuja identidade o autor parece voluntariamente assumir. E Piau não se faz de rogado: Não contente em apagar as velas que Adalberto, em tempos pregressos, consagrara ao partido de Deus, ele acende outras   para a oposição
Não obstante essa “quebra de confiança”, o personagem parece ter-se tornado heterônimo do autor, posto que este, placidamente, o incorpora como apelido que lhe fora cunhado por seus novos interlocutores. Mas, cá pra nós, apesar da convivência aparentemente pacífica entre ambos, a criatura – de natureza presepeira - não dá testemunho real nem revela o espírito generoso e sensível do criador. .
O livro traz à tona, ademais, em sua primeira parte, corruptelas e regionalidades que no Nordeste atual - plugado na tecnologia e em processo crescente de globalização - já se vêem pouco a pouco reduzidas ou circunscritas a núcleos rurais específicos. Na obra de Adalberto, contudo, esse resgate se impõe e se explica. Pois se a terra já vivencia diferente patamar cultural, nos filhos distantes, aqueles elementos compõem um “arquivo morto”, paradoxalamente vivo em seu âmago.
Recriar, porém, é papel primordial da literatura. Aqui, os falares nordestinos, ali, fragmentos do linguajar mineiro, alhures, ambas as regionalidades se conjugam, porque representam retalhos de uma grande colcha denominada Brasil. É assim que uma unidade menor, ao escapar de seu isolamento, .funde-se a contextos regionais semelhantes e tornam-se um sistema de dimensões indemarcáveis; universalizam-se
Estimado amigo Adalberto, que imensurável prazer reencontrá-lo! E, invocando aquelas nossas especulações verbo-nominais, melhor ainda é reencontrá-lo escritor, “de volta para o aconchego” das musas, reconciliado de mala e cuia com sua antiga vocação..   
Devo confessar que, nestas décadas, não temi perder o companheiro leal de tantas viagens do intelecto e inocentes peripécias .As amizades verdadeiras são atemporais e indiferentes às reentrâncias da geografia. Receava, porém, que aquele literato, que tão bem se esboçara nos anos setenta, se perdesse nos caminhos de seu novo mundo, quiçá formados de labirintos. Como, aliás, tantos se extraviaram, até aqui, nas rodilhas da burocracia, do poder político ou econômico, ou porque deixaram seu canto sufocar-se pelos desencantos.     
Alegra-me, todavia, constatar que o tempo não diminuiu nossos pontos de convergências. Fez apenas alguns remanejamentos e adequações. Por exemplo: compensou-nos os desfalques na cabeleira com arrobas a mais na silhueta; rasgou nossa agenda de rodadas de “pitu” ou serenatas bizarras e acalmou-nos aquela impaciência que em setenta e um detonava o Brado Estudantil. E mais: Lapidou-nos as ferramentas de trabalho e manteve intactas nossas asas de poeta.
E, assim, a força mágica da arte logra, mais uma vez, reunir o que à geografia e à história se mostrou impossível. .É que, a despeito das distâncias e dos anos, continuamos congregando no mesmo culto (ao amor fraterno e às letras), de onde, em última análise, nunca nos dispersamos.
                                         
                                          Brasília, DF, junho de 2008.

                                          



Biografia:
GILSON CHAGAS - DADOS BIOGRÁFICOS Gilson Chagas. é Mestre em Ciências Empresariais; Especialista em Auditoria e bacharel em Ciências Contábeis. Além de diversos cursos de formação profissional, tem cursos de extensão universitária em Teologia e Comunicação em rádio. Ex-funcionário do Banco do Brasil, aposentou-se como Auditor de Rendas Municipais Atualmente é professor da Universidade de Brasília–UNB - Distrito Federal, tendo exercido o magistério acadêmico em diversas instituições nacionais, entre elas, o Universidade Luterana do Brasil e Faculdades Objetivo, em Palmas – Tocantins, Faculdade Projeção, Centro Universitário Euro-americano Sociedade de Educação e Cultura – Distrito Federal. Paralelamente, já atuou como produtor e apresentador de programas de rádio, articulista em jornais e revistas,de vários estados brasileiros; letrista de músicas. É escritor, tendo publicado, até aqui, as seguintes obras: CURVAS DO MEU CAMINHO(poesias - 1973); A FERRO E FOGO (romance – 1983); JUVENTUDE UM GRITO DE ESPERANÇA (pesquisa ´-1997); O PRINCÍPIO DA COANTABILIDADE (técnico-didático –editora Vestcon,1998) e CONTABILIDADE GERAL SIMPLIFICADA (técnico-didático- Editora SENAC, 2005; A ÉTICA E A ATIVIDADE CONTÁBIL (Dissertação – Editora Biblioteca 24x7,2008)). Obras inéditas: MOÇOS DE DEUS (Ensaios) e MÚSICA PARA PENSAR (romance).
Número de vezes que este texto foi lido: 52850


Outros títulos do mesmo autor

Ensaios JACÓ & RAQUEL GILSON CHAGAS
Poesias FALANDO DE FLORES E ESPINHOS GILSON CHAGAS
Poesias COMO AQUELES PASSARINHOS GILSON CHAGAS


Publicações de número 1 até 3 de um total de 3.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
JASMIM - evandro baptista de araujo 69012 Visitas
ANOITECIMENTOS - Edmir Carvalho 57919 Visitas
Contraportada de la novela Obscuro sueño de Jesús - udonge 56760 Visitas
Camden: O Avivamento Que Mudou O Movimento Evangélico - Eliel dos santos silva 55835 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 55110 Visitas
Entrevista com Larissa Gomes – autora de Cidadolls - Caliel Alves dos Santos 55058 Visitas
Caçando demónios por aí - Caliel Alves dos Santos 54941 Visitas
Sobrenatural: A Vida de William Branham - Owen Jorgensen 54889 Visitas
ENCONTRO DE ALMAS GENTIS - Eliana da Silva 54814 Visitas
Coisas - Rogério Freitas 54804 Visitas

Páginas: Próxima Última