O primeiro capítulo narra a passagem de Assis Chateaubriand, um dos homens mais poderosos do Brasil, num hospital, onde esteve internado por problemas de Trombose. “Chatô” como era chamado Assis Chateaubriand, não gostava de religiosos. Mesmo durante sua lenta agonia, Chatô não se entregava facilmente. Era dotado de uma bondade sem igual, pois doara a 22 empregados seus, 49% do controle acionário do maior império de comunicações da América do Sul, que se estendia do alto do Rio Madeira, nos confins da selva amazônica, até Santa Maria da Boca do Monte, perto do Uruguai.
Chatô não perdia seu humor, mesmo nas situações mais difíceis. Não gostava de médicos, principalmente dos que suspeitavam de sua fraqueza circulatória. Foi Embaixador do Brasil na Inglaterra. Embora fosse um adversário público da mudança de capital do Brasil, do Rio de Janeiro para Brasília.
Era também um crítico da obra de Kubitschek. Nada o empolgava mais do que criticar o ex-presidente, que o mantinha longe do Brasil. Chamava Kubitschek de “Pateta Alvar”, porque o presidente prometera por fim à condição de fornecedor de matérias-primas para os países industrializados.
Chatô era admirado e respeitado em todo o país, não pela afeição, mas pelo medo que muitas vezes impunha. Ninguém podia ignorá-lo, se fosse seu inimigo seu inimigo seria perigoso até mesmo para o governo. Indiferente às advertências, que sofria, seguia sua vida como se nada o ameaçasse. Se Kubitschek preferiu mandar-lhe para a Inglaterra, menos mau, pensava Chatô, que preferiu colocar no seu cargo de embaixador, o ministro-conselheiro Antônio Borges Leal Castello Branco. Àqueles que o criticavam por isto, simplesmente xingava-os de comunistas ou índios botocudos. Atacava constantemente o jornal O Estado de São Paulo, por este negar tudo que Kubitschek fez pelo Brasil. Embora Kubitschek lhe oferecesse o melhor cargo do Brasil, na época, Chatô não poupava esforços para criticá-lo.
No capítulo 2 é retratada a infância de Chatô. Era feio, raquítico e além de tudo, gago. Custou a falar e tinha problemas na escola. Sua gaguice o transformou num tímido incurável, arredio e envergonhado. Parecia um “bicho” – dizia seu avô. Quando foi à escola, nem chegou a completar a primeira semana de aula. Era constantemente vítima de deboches, de gago ele conseguiu se transformar em mudo. Chatô demorou a aprender a ler e aos dez anos permanecia analfabeto. Para cura de sua gaguice, permanecia sentado em cima de uma pedra falando sozinho, ocasião em que criou vários personagens imaginários.
Quando foi morar com o avô, sofreu influências de más companhias da região e acabou se tornando um canalhinha, capaz de desmoralizar a família. Só aprendeu a ler quando foi morar com o tio Chateaubriand. Teve ótimas influências de seu tio e a 22 de novembro de 1904, com doze anos, ele aprendeu a ler.
Os dois capítulos retratam os dois extremos de sua vida: um à infância, e outro à beira de sua morte. Quanto à sua infância, pode-se observar que não era um menino “prodígio” como se esperava que fosse, mas apenas, um menino feio, malcriado e gago. Sua infância foi aparentemente normal, com traquinagens normais da idade.
À beira de morte, mesmo estando doente, estava sempre escrevendo e tinha intensa atividade política. Não se limitava a uma vida bitolada e sem nexo. Era extremamente criativo e dedicado em suas obras. Contrário às idéias de Kubitschek, porém, não molestado por este, que inclusive o respeitava muito. Tinha muitas divergências com Kubitschek, a quem criticava severamente. Em certa ocasião escreveu: “o presidente deveria se dedicar a arranjar titica de galinha para adubar nossos cafezais. Trabalhe duro, forte e feio em titica de galinha, presidente, que é o melhor que pode haver em matéria de esterco para a recuperação dos nossos cafezais”. Esta e outras passagens, demonstram a expontaneidade de seus escritos.
Ao ser impedido de entrar numa recepção, Chatô não se conformou e ofendeu copiosamente os guardas que não lhe deixaram entrar.
Era assim, Chatô, irreverente, crítico, corajoso e não se deixava levar por aparências. Irreverente porque não tinha medo de falar e escrever. Crítico porque ofendia até o presidente Kubitschek. Corajoso, porque queria esclarecer, explicar, ir a fundo com suas notícias. Não conhecia barreiras que o intimidassem.
Sua enfermidade era acompanhada com pesar pelos políticos e autoridades. Sua morte causou grande impacto no Brasil. Querido por uns e odiado por outros, Chatô foi um grande brasileiro, que soube amar sua pátria be dar a ela o que muitos ocultam: a verdade.
*
|