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A perda da escrita manual
Flora Fernweh

Aos poucos aniquilei o costume de escrever à mão, já nem lembro como uma caneta rabiscando o papel é capaz de edificar uma poesia. Tenho a impressão de que aqueles que expressam seus sentimentos com facilidade e sem retornos, ainda se dão bem com a forma natural de escrever. Para mim, a escrita flui, a inspiração me chega no momento oportuno, mas com frequência me pego pensando até demais antes de manusear minha criatividade literária, embora eu saiba que o pensamento por vezes consome a poesia, que é fruto de um instante.

Gosto de poder apagar e reescrever, conjecturar e lapidar as minhas frases, e isso a escrita digitada me permite fazer sem poluição verbal. Também minhas mãos nem sempre acompanham a ligeireza do pensamento, o que é suprido pelas teclas, que me proporcionam transpor para a tela aquilo que a mente descreve com o mínimo de interferências. Mas escrever à mão, sentindo um milagre se formar ante o ballet do punho em movimento e da materialidade do papel continua sendo o parto natural da poesia, e se ela pudesse falar como falam os humanos, não restariam dúvidas que este seria o meio predileto pelo qual veio ao mundo.

Mas toda e qualquer poesia encontra limitações, seja ela escrita, datilografada, oral ou visual, e eis a sua magnificência. Se plena fosse a poesia, ela não nos lançaria a querer desvendá-la sempre mais. Se escrever não fosse um mistério e se nos fosse possível escolher as palavras exatas que proferem aquilo que pretendemos, não haveria razões para a continuidade de seu exercício. E ouso dizer que para um escritor produtivo, escrever aos montes se tornou menos cansativo depois da imprensa, mais ainda após o advento dos computadores na terceira revolução industrial.

Considero aceitável digitar um texto, tal como este que ora “escrevo”. Aliás, seria correto dizer que escrevo quando na verdade digito? Agora, uma poesia que saiu do pensamento do poeta mas ganhou forma por meio das teclas de um computador, perde em certa medida a essência de sua origem. Há também aquela escrita que nasce diretamente da tela de um tablet ou de um celular, e convenhamos que existem tantos eletrônicos para poucos poetas, tanta tecnologia para pouca criação profícua. Se continuarmos nesse ritmo, muito em breve, os poemas não mais se lembrarão de seu nascedouro tradicional.

Sinto que a magia da escrita à mão vem se perdendo, e os poetas, em sua pequena maioria vêm aderindo ao engenho científico em suas produções. As mãos já falham ao tentar desenhar algumas frases na folha em branco, e até parece que a tábula luminosa não é uma página, mas apenas um local para ser preenchido, o que se torna muito mais atrativo aos poetas da nova estirpe, tão ávidos pela escrita instantânea. Parece-me que regredimos, hoje não é preciso sequer usar as mãos, basta um clique e o texto é automático, comandado, redigido por voz, como se fôssemos um povo ágrafo, mas piores, porque sem invento, sem textura e sem memória.


Biografia:
Sobre minha pessoa, pouco sei, mas posso dizer que sou aquela que na vida anda só, que faz da escrita sua amante, que desvenda as veredas mais profundas do deserto que nela existe, que transborda suas paixões do modo mais feroz, que nunca está em lugar algum, mas que jamais deixará de ser um mistério a ser desvendado pelas ventanias. 
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