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A rotina e a adaptação no berçário
Morgana Bombana Susin

Resumo:
Nos primeiros anos da educação infantil é indispensável reservar um tempo adequado para realizar as atividades de rotina, elas são o ponto de partida para organização das outras atividades.

No berçário, os processos de ensino-aprendizagem relacionam-se diretamente com as atividades do cuidado, e é neste processo que a educadora deve interagir com a criança. Esta interação é positiva quando a criança passa a adquirir autonomia e passa a conhecer a si mesma e também a outras pessoas. Portanto, a rotina pode ser considerada como eixo central do processo de desenvolvimento nos primeiros anos de vida.
Se fizéssemos uma análise do tempo dedicado a atividades de rotina, durante uma jornada, veríamos que é um tempo considerável. Sobretudo durante os três primeiros anos, utiliza-se muito tempo para troca de fraldas, dando-lhes refeições ou tentando que descansem por um determinado momento. A rotina é uma situação de interação importantíssima, entre o adulto e a criança, em que a criança parte de uma dependência total, evoluindo progressivamente a uma autonomia que lhe é muito necessária.
O espontaneísmo de cada educadora, acaba por consistir numa rotina para as crianças, que vão se acostumando ou talvez, regulando seu comportamento com a maneira de ser da educadora.
Normalmente as escolas de educação infantil têm sua rotina organizada pelo horário de entrada e saída das crianças, pela troca de professoras e funcionárias e pela divisão dos espaços da instituição. Cada turma tem seu horário de almoço, de lanche, pré-janta e de brincar no pátio externo. As outras atividades são organizadas de acordo com o horário pré-estabelecido.
Rotinas rígidas e inflexíveis desconsideram a criança, que precisa adaptar-se a ela e não ao contrário, como deveria ser, desconsideram também o adulto, tornando seu trabalho monótono, repetitivo e pouco participativo.
Antes mesmo de começar a frequentar a escola, o bebê encontra-se inserido em um ambiente social e cultural, no qual circulam significações diversas. Suas ações e reações são interpretadas pelo adulto, que as significa e reage em função destas significações, fazendo com que no decorrer de seu desenvolvimento o bebê vá se constituindo como pessoa integrante daquela cultura.
Quando o bebê começa a frequentar uma escola infantil, ele passa a entrar em contato com um novo meio, diferente do familiar. Ele conhece novas pessoas (adultos e crianças) e ambientes diferentes. Dessa forma, passa a conviver com outras pessoas diariamente, principalmente as educadoras por ele responsáveis, ampliando seu círculo social e o acesso a novas significações.
Tanto a família, quanto a creche proverão diferentes condições de desenvolvimento ao bebê, promovendo tipos diversos de interações e experiências. As concepções e práticas de cuidado/educação variam conforme as expectativas que cada um destes grupos têm em relação à criança. Também são específicos de cada uns dos grupos as pessoas envolvidas, o número de adultos e crianças presentes, os tipos de relações estabelecidas, as rotinas e horários.
Assim, quando a criança começa a frequentar uma creche, além de ampliar sua rede de relações sociais, ela passa a vivenciar uma nova rotina, com diferentes horários e práticas de cuidado/educação. O bebê terá de enfrentar as primeiras separações da mãe ou de algum adulto mais próximo da criança, como a babá, o pai, a avó, que passarão a ocorrer diariamente, provocando sofrimento, na criança e no adulto responsável.
Dependendo da faixa etária em que se encontra, a presença de um adulto desconhecido pode provocar no bebê reações de estranhamento e rejeição aos contatos deste adulto, no caso o educador. As reações da criança podem dificultar o estabelecimento inicial de uma relação agradável, colaborando com o aumento do sofrimento na criança. Também o educador sofre neste processo, pois ele sabe que precisa conquistar a criança para que ela pare de chorar. Com a redução do choro, ele consegue, indiretamente, demonstrar e convencer a família de que a criança pode ficar na creche, que ela está bem ao seu lado, ou seja, que os pais podem confiar nela.
A nova rotina também pode provocar estranhamento na criança, exigindo-lhe a aceitação de uma nova forma de ser alimentada, com novos horários, novos alimentos, espessuras diferentes de comida, ou ainda a necessidade de adaptar-se a um novo lugar para dormir, com outros horários e maneiras de se colocar para dormir e acordar, dentre tantos outros aspectos relacionados ao cuidado e educação das crianças.
As crianças podem, inclusive, estranhar as mudanças na maneira como as educadoras por elas responsáveis realizam os cuidados de higiene e saúde. A entrada da criança na creche provoca modificações não apenas nela, que precisa se adaptar a todas estas mudanças, mas também os adultos envolvidos no processo modificam e são modificados ao longo do tempo.
O processo de adaptação é dinâmico e complexo, envolvendo vários processos inter-relacionados dinamicamente: o da criança, o da mãe, o das professoras, o da creche, o do grupo no qual a criança está inserida, o da família, dentre outros. O processo de adaptação provoca sofrimento nas pessoas envolvidas, mas, simultaneamente, também promove desenvolvimento. O bebê, por exemplo, tem a oportunidade de conhecer novas crianças, outros adultos, novas brincadeiras/jogos, vivenciar diferentes situações de passeio e de aprendizagem que não teria se permanecesse junto da família. O educador tem a oportunidade de conhecer novas crianças e famílias, trocar experiências com as mães, por exemplo.
Considerando-se as especificidades dessa faixa etária, especialmente a dependência que os bebês têm em relação aos adultos e sua vulnerabilidade, oferecer uma inserção de boa qualidade é um passo importante para a conquista de um atendimento coletivo capaz de promover um desenvolvimento saudável.








Biografia:
Artigo escrito pelas professoras de Ed. Infantil Morgana Bombana Susin e Jussara Oliveira, da Escola Municipal de Educação Infantil Amor Perfeito.
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