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Sabe tudo e mais um pouco *
Rafael da Silva Claro


Tóquio 2020 ou 2021? O que importa, parafraseando Fernando Vanucci, é que a França é logo ali! Nem bem acabaram as Olimpíadas e os Jogos de Paris serão daqui a 3 anos.

Durante os Jogos Olímpicos, viro especialista do esporte mais obscuro que vejo. Nos esportes mais comuns, sei quando o ponto é válido e se houve infração. Nas competições mais técnicas, sou capaz de avaliar uma performance com precisão decimal.

Quando as Olimpíadas acabam, tudo volta ao normal, e futebol volta a ser o único esporte que realmente conheço. Crawl e cavalo com alças somem do meu vocabulário; rítmica e artística são modalidades da ginástica que voltam a ser irrelevantes; tênis de mesa volta a ser chamado de ping pong; handebol, um jogo muito chato; 100, 200, 400, 800 metros, revezamento e maratona, corridas; badminton é somente peteca com raquete; crawl, costas, borboleta e peito são apenas nados; durante os Jogos, sei até o que é o florete, depois tudo não passa de luta de espadas; karatê, judô e boxe são lutas. Numa ousadia olímpica, introduzi o duplo twist carpado ao meu linguajar só porque virou gíria. Qualquer movimento simples é cambalhota ou pirueta, mais ousado é espacate, estrela ou mortal.

Nos jogos de inverno a transformação é ainda mais bizarra. Até o clima me separa de esportes tão estranhos e europeus. É estranho algum brasileiro perdido entre alemães, franceses, italianos, belgas, suíços etc. Se tiver algum brasileiro misturado ali, é filho de gringo e criado em outro país.

Até nos esportes de inverno eu, curiosamente, viro especialista. Sei tudo até de curling e torço muito e arrisco uns palpites no bobsled. Para torcer, escolho um azarão de clima tropical, geralmente um país africano.

É muito estranho esse evento (Jogos Olímpicos) sem torcida, principalmente a abertura. Fora o excelente quadro de medalhas brasileiro. As competições ficaram lembrando treinamento e a cerimônia de abertura e encerramento pareceram ensaios gerais.

Vou voltar a me conformar com o meu cotidiano futebol. Nessa minha zona de conforto, eu conheço bem as regras, mas também lamento que esteja sem torcida.


Biografia:
Ensino secundário completo. Trabalhei em várias empresas, fora da literatura. Tenho um blog, onde publico meus textos: “Gazeta Explosiva” Blogger
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