No emprego novo, a palavra classificadora, definidora no crachá, paroxítona na raiz: provisório. Não ligou quando a garota do RH o entregou, dizendo que na próxima semana entregariam o definitivo, com nome, foto, número de registro e tudo o que faz um homem cativo de uma empresa. Pegou e foi cuidar dos objetos que não eram seus, mas que a organização exigia que ele tivesse uma "dor de dono", de segunda a segunda, com um dia semanal e um domingo de alforria, ele também objeto, mercadoria entre as mercadorias. A muito tempo não ligava para as coisas, as de fora e as de dentro, um misto de passividade e inocência, estranheza e docilidade, um pacato cidadão, se apagando da civilização...e o que será isso mesmo?... e assim continuou a jornada, bastante tempo, até aquele dia no qual o cliente, aquele que "tem sempre razão", disse aquela gracinha na frente da esposa: "Seu nome é provisório?". Nesse momento lembrou de tudo o quanto achava provisório na vida, tudo de segunda mão: as amizades vividas e acabadas, os amores avulsos, que nunca decolaram, os empregos sem sentido, com o velho ato de funcionar, que é o que os funcionários fazem, se dividindo entre acatar ordens, caguetar e competir todos contra todos, chegando a lugar algum, as relações sem reciprocidade e ressonância... E ai retrucou: "É...quando você viajar e sua esposa ficar sozinha em casa, chame o provisório...rssrs".O quiproquó armado pelo rei cliente na terça resultou na dispensa sem justa causa na quarta, recolhendo os dias trabalhados e os meses de alcova. Perdeu o emprego, mas ganhou algo dentro dele que despertou: um campo arado e produtivo de ironia, cinismo, arrogância e bem estar...algo que a muito ele não saboreava, última gota de um néctar e esse desejo de querer mais...um gosto imenso e inebriante de um pouco de liberdade...
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