Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
O mercado mundial de café
e o tráfico transatlântico no século XIX
Caliel Alves dos Santos

Resumo:
Conheça um pouco da escravidão no vale do Paraíba no século XIX.

Apesar da repressão ao tráfico negreiro transatlântico desde 1831, a entrada de escravos continuou ilegalmente até a segunda metade do século XIX no Brasil. Em 1850, a Lei de Repressão ao tráfego de escravos entrou em vigor. Em um artigo, Beatriz G. Mamigonian (2019) nos traz as condições jurídicas desses escravizados. Havia discursos conflitantes sobre o tema em todo o período.
     Para alguns historiadores, foram os escravos do fim do ciclo do ouro de Minas Gerais que, transplantados para as plantações de café do Vale do Paraíba, movimentaram a monocultura de exportação. Através de uma análise econômica do mercado mundial da época, outros historiadores chegaram a conclusão contrária (MARQUESE & TOMICH, 2009). Atrelar a escravidão no vale cafeeiro ao declínio da mineração de Minas Gerais é anacrônico.
     Antes da Revolução, Saint Domingue era o maior exportador de açúcar. O café, aclimatado há pouco tempo, não respondia ao grosso dos artigos de exportação. A Jamaica, e até mesmo Java produziam muito mais café do que o Império do Brasil. Mas devido às mudanças do mercado mundial, o país, mesmo sob intensa fiscalização inglesa, aumentou a produção de café através da importação ilegal de escravos africanos (ibid., 2009).
     Houve todo um processo de concentração de mão de obra escrava no interior do eixo São Paulo/Rio de Janeiro/Minas Gerais (id., 2009). O fértil Vale do Paraíba contava com estradas reais e carga de moares do período da mineração. A retirada de Jamaica e Saint Domingue na produção de café, a mudança da maior praça comercial da Inglaterra para o EUA, e o declínio no preço do açúcar nacional modificou a dinâmica da escravidão.
     Os tratados bilaterais com a Inglaterra foram desrespeitados. Os “africanos livres” nunca gozaram plenamente de sua liberdade. Em artigo de Keila Grinberg (2006) sobre processos de reescravização e manutenção da liberdade, vemos o quanto o direito à liberdade era caro e dificultado pelo sistema escravocrata: a segunda maior causa de ações na Corte de Apelação do Rio de Janeiro era escravidão e manutenção da liberdade, com cerca de 27%, só perdendo para cartas de alforria com 31%.
     Somado o mercado financeiro mundial e as condições endógenas, a escravidão era uma política de Estado Nacional. Com a repressão inglesa e os movimentos antiescravistas (quilombagem e abolicionismo, por exemplo), o escravismo se sustenta como direito consuetudinário até 1888, quando a escravidão já não consegue mais sustentar a Monarquia.




REFERÊNCIAS

MAMIGONIAN, Beatriz Gallotti. A proibição do tráfico atlântico e a manutenção da escravidão. In: GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo (orgs.). Brasil Império, volume I, 1808-1831. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p. 207-233.
MARQUESE, Rafael; TOMICH, Dale. O Vale do Paraíba escravista e a formação do mercado mundial do café no século XIX. In: ________ (orgs.). Brasil Império, volume II, 1831-1870. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p. 339-383.
GRINBERG, Keila. Reescravização, direitos e justiças no Brasil do século XIX. In: LARA, Silva H.; MENDONÇA, Joseli Maria (orgs.). Direitos e justiças no Brasil. Campinas, São Paulo: Editora da UNICAMP, 2006. p. 101-128.


Biografia:
Caliel Alves nasceu em Araçás/BA. Desde jovem se aventurou no mundo dos quadrinhos e mangás. Adora animes e coleciona quadrinhos nacionais de autores independentes. Começou escrevendo poemas e crônicas no Ensino Médio. Já escreveu contos, noveletas, resenhas e artigos publicados em plataformas na internet e em algumas revistas literárias. Desde 2019 vem participando de várias antologias como Leyendas mexicanas (Dark Books) e Insólito (Cavalo Café). Publicou o livro de poemas Poesias crocantes em e-book na Amazon.
Número de vezes que este texto foi lido: 59459


Outros títulos do mesmo autor

Resenhas ZAGENIA – DEGUSTAÇÃO Caliel Alves dos Santos
Contos (RE)FABULOSO Caliel Alves dos Santos
Contos O NEFALISTA Caliel Alves dos Santos
Artigos QUEM QUER SER UM CAMPIONE? Caliel Alves dos Santos
Resenhas SINESTESIA MONOCROMÁTICA Caliel Alves dos Santos
Poesias CAPITÃES DO MATO DO SÉC. 21 Caliel Alves dos Santos
Poesias SEX APPEAL Caliel Alves dos Santos
Resenhas UNIVERSO IMAGÍSTICO – DEGUSTAÇÃO Caliel Alves dos Santos
Artigos DOSSIÊ – COMO PROMOVER E PUBLICAR MANGÁS NO BRASIL Caliel Alves dos Santos

Páginas: Primeira Anterior

Publicações de número 131 até 139 de um total de 139.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
Saia de Azul - José Ernesto Kappel 59748 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 59748 Visitas
Vida - Maria 59747 Visitas
O ANOITECER. - MARCO AURÉLIO BICALHO DE ABREU CHAGAS 59747 Visitas
A Morte do Canto - Maria 59747 Visitas
Caçador da Noite - José Ernesto Kappel 59745 Visitas
E O TEMPO NÃO DEVORA - Lailton Araújo 59745 Visitas
A LAGARTINHA E A ALIMENTAÇÃO - Andrea Gonçalves dos Santos 59744 Visitas
A fuga dos sentimentos - Maria 59744 Visitas
Estrela sem voz - Maria 59744 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última