Seria comédia uma raça de arrogantes ser apavorada por um monstro só visível no microscópio. Um vírus fez o planeta curvar-se e ficar de joelhos. Impensável, escreveu-se o enredo da escolha: Os que deveriam morrer e os que deveriam viver. É trágico.
Esse monstro foi responsável por outras epidemias. Se a Covid-19 começou na China, nas redes sociais começaram as criadas pelos humanos. Mesmo isolados fomos infectados por epidemias de conspirações. Por epidemias de negações. Por epidemias extremistas. Juntando todas, as redes sociais criaram o monstro perfeito da ignorância. Um bichinho de estimação. Quem quiser pode ter um. A procura é grande.
A ciência foi a primeira a ir ao campo de batalha enfrentar o monstro. Apesar de ser posta em xeque por mitos extremistas, a ciência jamais se permitiu deixar o front. Numa analogia com o título do livro escrito por Erich Maria Remarque, agora já existem novidades no front. Isto não significa que a vitória contra o monstro esteja próxima. Ele já surfa numa segunda onda.
Essas novidades estão na reportagem de capa da revista Veja desta semana: “As respostas da ciência”. Separada dos mitos, a ciência já deu o seu grande primeiro passo para entender o funcionamento do monstro. Os diagnósticos, os tratamentos, os riscos de morte, a contaminação, a prevenção, as mutações do monstro. As possibilidades de vacinas eficazes e quando elas estarão disponíveis.
Também isolados, os pensadores da atualidade dão opiniões e fazem reflexões sobre as causas, as consequências e o mundo pós-pandemia. As causas é onde há mais consenso. Os humanos estão alterando drasticamente o planeta. A sede por progresso e riquezas estão nos fazendo invadir habitats que não deveriam nos pertencer. Uma certeza. Teremos de enfrentar outros monstros invisíveis.
Num artigo transformado em livreto, Yuval Noah Harari chama a atenção para a falta de líderes e os perigos da ascensão dos populistas: “Se a epidemia resultar em maior desunião e maior desconfiança entre os humanos, o vírus terá aí sua grande vitória. Quando os humanos batem boca os vírus se multiplicam”, diz Yuval.
Olhando para o mundo pós-pandemia a palavra que surge é a “cooperação”. Ela é usada tanto por Harari quanto pelo físico Fritjof Capra, autor dos livros “O Tao da Física” e “Ponto de mutação”. Capra ataca a divindade do PIB e as ideologias: “Justiça social não é uma disputa política de direita ou esquerda, mas uma questão de vida ou morte”.
Para o peruano Mario Garcia Llosa Nobel de Literatura, no pós-pandemia o “mundo sairá melhor”. O mesmo Llosa, num artigo chamou o autoritarismo de medieval e culpado pelos riscos de “retornar o mundo à Idade Média”. Por um mundo melhor, é preciso derrotar outros monstros perigosos. Monstros visíveis sem microscópios.
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