Resumo: Este conto busca abordar as características do temperamento humano, assunto que tem sido objeto de estudo de muitos psicólogos e filósofos. Mas definir toda a complexidade de nós, seres humanos, não é tarefa fácil. Só um grande poeta seria capaz de traduzir, de forma tão suscinta e apropriada, em linguagem poética, a essência desses temperamentos típicos.
QUADRILHA (1930)
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Carlos Drummond de Andrade
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Três amigos adolescentes, tão unidos que pareciam uma “quadrilha”, embora possuíssem comportamentos bem diferentes, todos tentaram namorar Lili, uma colega de colégio.
João com um temperamento sanguíneo, era otimista e impulsivo. Comunicativo queria estudar cinema em Hollywood nos Estados Unidos. Mas tamanha impulsividade, superficialidade e exagero assustaram Lili que não aceitou namorá-lo. Hoje João mora na Califórnia e leciona teatro numa High School no condado de Santa Bárbara.
Raimundo era intenso, colérico, explosivo e impulsivo. Além de muito impaciente. Após pressionar Lili por uma decisão, recebendo resposta negativa, ficou tão transtornado que sofreu um acidente de carro e faleceu.
Joaquim, dos três era o mais sensível, tímido, curtia música e pintura. Mas sendo introvertido, tipicamente melancólico, tinha dificuldade em expor seus sentimentos à Lili. Dos três era aquele que Lili mais gostava. Mas não amava. Frustrado, não resistiu à decepção. Foi encontrado, sem vida, em seu quarto. Morto por overdose. Até hoje fala-se em suicídio.
Nessa mesma época um aluno transferido é incorporado à turma. Fernandes, sem dúvida, fleumático, paciente e disciplinado. Seu equilíbrio e confiança atraíram Lili, que por ele se apaixonou. Namoraram e se casaram logo após à formatura. Portanto, como no poema “Quadrilha” de Carlos Drummond de Andrade, Lili se casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.
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