Quantas vezes já ouvi a pergunta: “Você só dá aula ou também trabalha?” Normalmente, no meio acadêmico da educação superior, a indagação surge sem que o questionador perceba tudo o que ela representa. Parece que “dar aula” é uma atividade menor, onde não basta a dedicação à vida acadêmica, sendo necessário que o docente comprove sua capacidade, exercendo alguma outra atividade profissional.
Anos empenhados na formação acadêmica, passando pela graduação, pela formação stricto-sensu, pela dedicação à pesquisa, buscando a publicação de artigos em revistas indexadas, a participação em congressos, entre outras atividades que exigem do docente tempo e esforço e que são cobradas como requisitos, pelas instituições de ensino superior, para "ranqueamento" desses profissionais em “planos de cargos e salários” que não remuneram adequadamente a atividade exercida. No fim o profissional é apenas mais um número. Não importa a experiência ou a formação.
De forma geral o trabalho extraclasse ou o “trabalho em casa”, que envolve a elaboração da avaliação dos alunos, a preparação das aulas, a atualização acadêmica etc., não é identificado como atividade docente, logo, não é percebido como carga de trabalho profissional, portanto, não é remunerado de forma adequada.
Apesar da precarização do ensino e da atividade docente, o respeito à relação professor-aluno motiva o educador. Segundo Freire (2019): “Esta atividade exige que sua preparação, sua capacitação, sua formação se tornem processos permanentes. Sua experiência docente, se bem percebida e bem vivida, vai deixando claro que ela requer uma formação permanente do ensinante”. Creio que a questão foi respondida!
Freire, Paulo. Carta de Paulo Freire aos professores, Estudos Avançados, 2001, (Carta extraída do livro Professora sim, tia não. Cartas a quem ousa ensinar, Editora Olho D’Água, 10ª ed., p. 27-38, 1993), Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v15n42/v15n42a13.pdf. Acessado em outubro/2019.
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