Os dias passavam com muito trabalho. As quatro da madrugada todos os dias passavam varios indigenas pela minha casa em direçaõ ao rio, aos gritos me chamando para banhar. Claro eu não ia, era muito cedo e nunca me animei a entrar na água as quatro da manhã. Mas eu levantava fazia um chá e esperava dar 7 horas para abrir a enfermaria. Sempre tinha fila. Uns com gripe, outros com diarreia, febre, dor de cabeça, cólica. Eu examinava e medicava, e o dia ia passando. Em dezembro, a outra enfermeira foi embora. Nunca mais a veria.. Aposentou-se.
Passei o Natal ali, sem radio, sem tv, sem comida.
Janeiro chegou e com dois meses ali eu já tinha pesadelos. Sonhava com coca-cola e xis salada, eu sentia tanta fome, e não havia mais nada para comer. Foi um dos janeiros mais chuvosos.
Parecia um diluvio. E com isso os aviões não desciam, ai eu não recebia comida. Mas quando eu ia dar atendimento na aldeia, que fica a 3 km do posto, ai sim eu conseguia comer um beju, ou banana. Os indigenas do alto xingú não comem carne de caça. Só peixe, mas estava escasso por causa das chuvas. Pensei muito, por diversas vezes em ir embora, desistir. Mas então eu pensava, não foi por isso que estudei? Não era esse meu sonho de criança? Realmente, confesso que não foi fácil. Mas fiquei. Aos poucos fui me adaptando, fazendo amizades, trabalhando muito. E os meses passavam. Uma vez ao mes, o bandeirantes da Funai vinha de Brasilia, com insumos médicos, trazendo alguns indígenas que estavam la para tratamento ai trazia uma caixa de compras para mim que eu encomendava ao comandante da aeronave. Toda vez que ele vinha trazia uma garrafa de coca cola e um xis salada
que eu comia dentro do avião. Passou-se alguns meses a chuva continuava e não consegui sair. Meu casamento ja ra, e o mais engraçado, eu não me importei. Ali era meu lugar.
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