. Eu não conseguia parar de olhá-la. Absurdamente gostosa, o ruivo do seu cabelo quase apagava a luz pálida do bar. E chorava. Lindos olhos verdes, borrados e inchados.
: – Tá tudo bem?
: – Não, não é nada...
: – Como se chama?
. Relutou em responder. Insisti.
: – Aceita um drink?
. Pedi ao garçom para lhe trazer um Red Martini. Ela sorriu. Chamava-se Karen. Fisioterapeuta. Uns vinte e oito anos. Terminara um namoro havia dois meses, mas o cara se recusava a aceitar.
: – Acredita que ontem de madrugada ele chegou lá louco, berrando, me mandando abrir a porta? Nossa, o prédio todo ouviu! Só foi embora depois que ameacei chamar a polícia...
. Que filho da puta! Dei uns conselhos para se livrar dele. Ela se amarrou na minha psicologia. Conversamos um bom tempo. Até nos beijarmos. Lábios macios, molhados. Sedentos.
. Fui ao banheiro. Me ajeitei, lavei o rosto. Seria delicioso.
. Enquanto mijava, senti minha carne rasgada na altura do rim. Uma dor lancinante.
. Não sei quantas facadas foram. Poças de sangue e mijo.
: – SEU FILHO DA P...
. Antes que eu pudesse terminar a frase, minha vida escorria pelo ralo.
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