Esse era o local obrigatório das saideiras -quando era cedo ou a sede permanecia- para uma noite de sábado. Frequentávamos essa espelunca por puro costume, pois a Vigilância Sanitária faria hora extra lá. O Barba era o, digamos, proprietário do empreendimento do ramo do entretenimento etílico. O atendimento era péssimo, até mesmo para a escória da sociedade. A comida, provavelmente, possuía coliformes fecais acima do permitido na lei. O pobre infeliz que aventurava-se a morder uma coxinha, contrairia uma infecção estafilocócica. A chapa para o preparo de lanches apresentava rastros de, argh, baratas. A prova do extermínio delas, era a lata de Baygon, estrategicamente posicionada.
O banheiro era, lógico, um capítulo à parte. A toalhinha de rosto, de tão usada, ficava permanentemente úmida e encardida. Essa conjuntura formava um caldo cultural perfeito para a proliferação de bactérias. A cordinha da descarga merecia um teste de carbono 14. Enfim, o, por assim dizer, “toilette” era um ambiente a ser evitado.
O fundo do boteco era onde a mágica acontecia. Para adentrar esse espaço, você tinha que vencer uma portinha. Quem passasse para lá, se isolava do resto do mundo e era brindado com um irritante videokê. Esse lugar era um tipo de bunker, de modo que, se caísse uma bomba atômica, lá fora, apenas sobreviveriam as baratas e quem ali estivesse. Nas paredes, quadros com imagens intrigantes, um pisca-pisca que mal iluminava o, vá lá, ambiente, a pretensa inscrição “Show de Luzes” e o inexplicável aviso “Ambiente Familiar”. No videokê, além dos péssimos cantores (inclusive eu), havia o momento Barba. Nesse episódio, o dono do duvidoso estabelecimento comercial, assassinava canções outrora belas. Ele era bovinamente aplaudido .
Esse refúgio, pessimamente frequentado, era, obviamente, um forte candidato a esconderijo de potenciais arquivos vivos. Ali, como em qualquer bar, saía uma briga generalizada de vez em quando. Mas não se podia chamar a Policia. Se qualquer autoridade visse o lugar, pediria sua interdição.
O Bar do Barba ficava em Guarulhos, e lá, determinadas pessoas fazem a “justiça” com as próprias mãos. Essa justiça condenou o Barba. Tentaram continuar o negócio sem ele, mas não era a mesma coisa. O bar fechou.
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