Jovem, simpático, brincalhão e galhofeiro, Noêmio da Cruz era muito querido por todos. No apogeu dos seus vinte e sete anos elegeu-se prefeito do Junco – o mais jovem da Bahia naquela legislatura.
Como em toda a região seus colegas ultrapassavam dois terços da expectativa de vida brasileira, Noêmio logo assumiu a liderança e tornou-se, ainda que informalmente, o porta-voz dos administradores públicos da redondeza.
Todos o admiravam por seu comportamento agradável e sua solicitude. Cometia alguns excessos apenas quando desejava galhofar de algum companheiro, o que provocava risos nos demais. E assim sua fama corria longe. Foi tão distante que alcançou o palácio do governador.
De certeza é que o mandatário da Bahia o convocou para audiência em seu palácio. Na hora marcada lá estava Noêmio da Cruz, apesar de sempre declarar pouca simpatia pelo governante baiano. Assim que teve acesso ao gabinete pôde observar que havia também outras pessoas e foi saudado pelo governador com uma brincadeira de gosto duvidoso:
- Ser prefeito é bom, não é mesmo seu Nôemio? O senhor era magrinho. Me contaram que tinha o cabelo ruim. Veja só como está sua aparência agora: cabelos penteados, forte, robusto, com esta pele de caju. Isto é que é vida, não é prefeito?
O alcaide, ao provar do seu próprio veneno e sentindo o gosto amargo, buscou imediata saída para não ter sua imagem maculada:
- Pois é governador, ser prefeito é bom mesmo. Sou eu quem dito as ordens no meu município. Eu faço chover na minha terra. Mas imagine como não deve estar passando bem o senhor, já que manda em todo o estado?!
E voltou para o Junco feliz da vida.
Ele apreciava beber com os amigos. E como bebia! Todos na cidade gostavam dele. Quando estava sem recursos financeiros pendurava as contas assinando apenas a nota. Alguns credores o cobravam no preço real, outros aproveitavam da sua confiança e acrescentavam algumas garrafas à sua fatura. E esta história de pendura passou a ser uma constante em suas idas ao comércio. Era um tal de pendura aqui, depois eu pago ali, põe na conta acolá e assim as coisas seguiam seu curso normal naquela cidade interiorana.
Um dia, o prefeito estava com alguns amigos em reunião em sua residência quando chegou seu compadre Nilton Cabaceira, costumeiro pedinte. O prefeito, que não se sabe se foi pego desprevenido naquele momento ou se não quis atender ao pedido do pai da sua afilhada, foi logo alertando-o:
- Compadre, neste momento estou sem nenhum dinheiro aqui. Mais tarde eu te pago uma dose no bar de Zé Grosso.
Nilton Cabaceira, doido que estava para molhar a garganta, não titubeou:
- Tem problema não, compadre. O dono da venda aceita uma nota sua para pendurar na conta.
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