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A norma culta dos alienados
(glossário moderno para falantes brasileiros)
Roberto Queiroz

Como fala mal o povo brasileiro!!!

Também o que esperar de um país que não dá a mínima para a educação, que dirá para a própria língua, imerso numa cultura de interesse onde o que está em jogo - desde os tempos de Brasil ainda colônia portuguesa - é a exibição de diplomas, títulos e honoris causa?

E tem como piorar? Tem. Faltam as modinhas, manias, gírias, afetações, que fazem do povo brasileiro o maior reinventor da sua própria língua. Em outras palavras: o brasileiro fala a língua portuguesa que ele próprio cria naquele momento, de acordo com o seu próprio humor e interesse.

De tanto acompanhar essa irresistível mania nacional decidi criar este pequeno glossário moderno, até porque tem muita gente que me lê nas redes sociais que não faz a menor ideia dessas inovações e fica completamente perdido, dependendo de com quem conversa (leia-se: pessoas de uma geração mais jovem do que ela própria).

Vamos encarar o desafio?

Andrógino: talvez a palavra com tempo de uso no país, mas ganhou uma remodelação nos últimos tempos. Virou sinônimo de tudo que é diferenciado, seja na estética, na política, na cultura geral, etc.

Curte/compartilha: a dobradinha do momento. Por conta do fênomeno das redes sociais, hoje em dia todo mundo admira ou espalha na rede o que existe de melhor (e principalmente: de pior) desse cotidiano caótico em que se transformou a vida.

Emojis/emoticons: para reles mortais, meras figurinhas animadas; para quem está por dentro do mundo geek/internético, resume o estado de espírito e a vida sentimental de muitos usuários da rede. Nunca foi tão fácil expressar raiva, amor, constrangimento, perplexidade, etc...

Fitness: sinônimo de saúde, de bem viver, de roupas esportivas, de quem maromba quase 24 horas por dia (e chama isso de "estilo de vida"). A palavra confunde-se com essa geração brucutu dos dias de hoje.

Hashtag: eu nunca entendi completamente a extensão do termo, mas ganhou uma proporção astronômica. É uma espécie de convite, convocação a participar de qualquer debate, manifestação, greve ou ato político que esteja na pauta do momento.

Lacrou: expressão típica de quem se acha, de quem pensar "mandar em tudo". Faça ela (a pessoa) um trabalho meia-boca ou não, adora contar vantagens de si pra todo mundo. Expressão que caia no ostracismo logo!

LOL: mais conhecido como rindo à toa. Uma extensão do kkkkk. Ou das hienas internéticas (que riem de tudo)

Miga: porque ser amiga somente já não é mais suficiente. Tem que ser uma relação de quase siamesas, quase respirando o mesmo ar junto. As meninas adoram.

Musa: no meu tempo de adolescente, musa era Luciana Vendramini e Sharon Stone. Hoje em dia, não é mais sinônimo de mulher líndissima e de corpo escultural (vide certas cantoras da MPB que andam ganhando o rótulo).

OMG!!! - no inglês oh my god! (ou o velho oh meu Deus!). Uso prático: a velha frescurada que certos geeks gostam de inventar pra chamar a atenção.

OFF: continua achando que tem duplo sentido. Na ruas, tudo que é fora de rumo, propósito, noção. Mas também tem uma conotação de liquidação no mundo shopping center de hoje em dia.

Partiu: vai chamar alguém para sair? Combinou com a galera algum programa? Vai a algum lugar e precisa avisar a turma que te conhece no face, no insta, no etc e tal? Agora já sabe.

Plus Size: expressão que nasceu de um preconceito (assim como afro tomou lugar de negro nos dias atuais). Ou seja, gordinha não dá mais. Ofende, dá processo e coisa e tal. Só não vale fazer que nem os babacas que comparam com os colchões do mesmo tamanho.

Tamo junto: podem conhecê-lo ou não e ainda assim falarão a frase de forma demagoga. Uma maneira mais simplista de dizer: "você é parceiro, é da galera!". Enfim...

Trending Topics: tudo de mais arrebatador, polêmico, esclarecedor, que ande chamando atenção atualmente junto à opinião pública. Ganha uma forcinha do curte/compartilha e do hashtag sempre que pode. Obs: a bunda de uma nova celebridade ou uma tragédia não estão isentos de aparecerem aqui.

E isso porque eu fiquei no básico. Se fosse me especializar no tema, certamente descobriria - com pesar - que a língua portuguesa de Camões, Drummond e Fernando Pessoa, infelizmente, está extinta faz tempo. Junto com o latim e o esperanto.

Dias negros vivem nossa civilização! E com vistas a piorar.


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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