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Para os artistas de plástico
(Um grito em prol da arte com A maiúsculo)
Roberto Queiroz

Já me dizia um antigo professor da faculdade: "se quer expor a sua verdade a qualquer preço, grite! grite antes que seja tarde demais!". Que assim seja. O tema do meu grito? Uma cutucada nessa gente que anda se autointitulando artista por aí.

Primeiramente (e é preciso que isso seja dito antes de qualquer outra coisa que eu venha a escrever neste manifesto): ser artista não é sinônimo de ser desinibido. Isso nós já temos em excesso ao redor do mundo.

Olhem ao seu redor. Olhem para os seus vizinhos. E para os seus colegas de trabalho. E de faculdade. Prestem bem atenção em cada um deles. No desejo implícito de serem famosos. Prestem atenção no quanto cada um deles têm de artista dentro de si.

E ainda assim nenhum deles (repito: nenhum) são de fato produtores de arte.

A arte, meus caros amigos, vem sendo transformada em instrumento de chacota, de exibicionismo, em mera mercadoria barata e abusiva, bem ao gosto dos acéfalos e cretinos que sempre foram maioria neste país. A diferença? Eles nunca foram tão organizados.

Pergunto-me por que é tão gratuito e fácil ser chamado de artista num país como o nosso e não consigo encontrar uma resposta realmente lúcida. Simplesmente porque não é do desejo da população (nunca foi) responder a qualquer tipo de pergunta. Gostamos mesmo é de berrar nossas insatisfações a torto e a direito, irrefletidamente. Pois queremos ser ouvidos. A qualquer custo. A qualquer hora. Por qualquer razão. A mínima que seja. E nada mais.

Quando tiverem tempo sobrando (eu sei...Ele anda escasso nos últimos tempos!) dêem uma breve olhada em nossa MPB, em nossa sétima arte, em nosso teatro, em nossa parca literatura, em nossas galerias e onde mais vocês desejarem. E mais uma vez: prestem atenção.

Prestem atenção no que vem sendo chamado de arte.

Arte, hoje, no Brasil, é tudo que conquiste vultosas plateias, orçamentos milionários, comentários aos montes em alguma rede social de importância (importância? desculpem... Foi falta de um verbete melhor), que polemize, escandalize, escrotize ainda mais o banal cotidiano. A arte contemporânea é o óbvio ululante às avessas.

Em outras palavras mais simples: a arte é o que vende. E o artista é seu intermediário mercenário, onipotente, esbanjador, vaidoso, com um discurso tresloucado na ponta da língua, pronto para gerar novas cobaias fanáticas por atenção.

Vejo com maus olhos o futuro dessa arte invisível, miserável, ordinária, opaca, desnecessária, sem valor estético, cheia de galhofa e metidice, metida a empoderada e diversa, mas que não reconhece sequer o seu semelhante. Seus atores (seria melhor agentes? deixa pra lá...) escondem-se atrás de poses estéreis, cabelos esvoaçantes, vozes estridentes, câmeras trepidantes, gargalhadas sujas, posturas ideológicas torpes. Meu Deus! Nunca se falou tanto no país e se disse tão pouco, quase nada, praticamente porra nenhuma.

O que esperar? O que não esperar? É para esperar alguma coisa dessa gente? Sério? Não será tudo isso uma fase, uma fase ruim que antecederá alguma fênix artística, salvadora da pátria? Sim? Não? Talvez? É... Perguntas demais. A última frase do parágrafo anterior se repetindo de novo.

Espero da arte contemporânea que ela não me espere. De jeito nenhum. Pois eu também não pretendo esperá-la. De jeito nenhum. Nem fodendo.

Se o melhor que o país pode fazer é o que aí está então prefiro um reboot cultural. Já. Estamos combinados? Desde já meu agradecimento por ter chegado até o final deste artigo. Nem todo mundo aguenta ouvir a verdade no Brasil.

(P.S: eu poderia, eu sei, ter citado inúmeros exemplos de má arte no Brasil contemporâneo. Cantores, cineastas, atores, músicos, enfim, uma lista quilométrica. Mas vocês não são inocentes. Vocês sabem exatamente de quem eu estou falando. Parem de ser hipócritas!)


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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