Fernando Reinach escreveu no “O Estadão”, que as redes sociais têm ajudado a humanidade a desprezar a ciência e a cultura. Creio ser possível ampliar essa constatação de Reinach. Não se trata apenas de simples desprezo pela ciência. Atualmente é assustador como a corrente da negação vem crescendo e ganhando adeptos no planeta.
Nos Estados Unidos, as escolas contratam bons advogados. A causa pela qual esses advogados brigam nos tribunais é para que as escolas possam incluir o ensino do criacionismo como matéria curricular. Com a causa ganha, a ciência no sentido amplo da palavra deixa de existir. Então cria-se o paradoxo. Usam a ciência para ensinar Adão, Eva e o paraíso.
Temos de admitir outra coisa também. A ciência nunca ganhou o espaço merecido nos meios de comunicação mundial. É compreensível. Ciência não atrai audiência. Não atrai leitores. Então não devemos culpar apenas as redes sociais. O rol dos que desprezam a ciência é muito maior do que se imagina.
Penso ter sido Carl Sagan o primeiro homem a levar ciência para uma parte significativa da humanidade. A série “Cosmos” baseado no seu livro com o mesmo nome foi um marco da ciência na época. A série é de 1980. Então me pergunto, será que as TVs abertas exibiriam a série se naquela época já existisse a TV por assinatura? Por exemplo, a série “Cosmos: A Spacetime Odyssey” de 2014, ficou restrita aos canais de documentários da TV fechada.
Não foi a série “Cosmos” quem fez o cúpido da ciência me atingir. Foi com o livro. Quando comprei o livro, a ciência seria a culpada por me chamarem de louco pela primeira vez. Haveria ainda uma segunda vez. Acabei de pesquisar. Hoje o preço está baratinho. Não estava assim na época do lançamento. Foi um bom tanto do meu salário para comprá-lo. Desde a perspectiva com que os homens das cavernas as olhavam, Carl Sagan é o culpado da minha paixão pelas estrelas.
Num dos capítulos do livro, Sagan apresenta uma equação. Supostamente ela calcula o local exato que cada planeta ocupa no Sistema Solar. Pela ciência me chamaram de louco a segunda vez.
Para resolver a equação era necessária uma calculadora científica. Aqui na cidade nem tinha para comprar. Comprei por encomenda. Paguei o equivalente a setecentos reais na época. Assaltei sem o menor pudor a minha poupança. Aprender a calcular a equação foi muito mais complicado do que gastar o dinheiro, mas eureca. Consegui.
Sem que seja necessário pagar advogados, a ciência precisa de mais causas. É bom nunca se esquecer. Só a ciência será capaz de prolongar o fim da humanidade.
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