A mulher misteriosa
Era noite, e ela, meiga, delicada e amável. Ah! Como era abstratamente amável. Uma pele utopicamente sensível. Aqueles cabelos sedosos e encaracolados. À distancia, uma incomensurável admiração. Mas naquele dia, não necessariamente todos os dias, ela parecia apática. De relance, um olhar tristonho, vagamente tristonho. Desconhecível.
Não dava para adivinhar o motivo daquele semblante apático. Ou seria a distancia visual? E justamente ela, que sempre sorridente. O que seria? Alguma perda recente, um amor de perdição? Não, não dava para saber. A curiosidade era tamanha. Mas a timidez de ambas as partes era eminente. Só restava observar e ocultamente. Uma verdadeira violação de privacidade alheia.
Oh, pobre alma desgostosa, cujo semblante misterioso externava, sem demonstrar uma delação do olhar. Mas, de repente, o inusitado aconteceu. Surgiu um ser, totalmente camuflado, e ainda que num imenso verão, todo encapotado e encapuzado, visitou aquela linda mulher, bateu a sua porta, em leves toc tocs e prontamente, atendido. Susto! Seria um homem, uma mulher? A maldade vem de relance: ou um amante? Sem delongas, o alguém adentrou ao recinto daquela jovem, e por horas, ficaram lá dentro. Mas não era observável ruído alguns ou estaria com problema auditivo?
Horas depois, a pessoa estranha, ainda ocultamente se despediu, apenas com aceno. Por que não a beijou? E de relance, a jovem bela, paradoxalmente, sorria, feliz, externando uma linguagem corpórea barroca, não mais tristonha e secular. O que teria ocorrido? Ora triste, ora alegre. Uma antítese personal, bela, sorridente, esbelta e mais bela.
Daí, a expectativa, a espera do dia seguinte. Que noite demorada. E a pessoa estranha, quem seria? Aí é outra história. Quer saber a sexualidade dela? Não sei, se foi. O fato é que a bela jovem, parecia mais jovem, uma mulher misteriosa.
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