Naquela casa
humilde em madeira morta.
De chão batido,
telhado coberto com telhas,
um plástico escuro para não molhar;
não havia porta.
A chuva quando caia,
tocava e batia
um som bem agradável.
Inigualável temporal,
fazia a alegria
estampada em cada rosto
daquela criançada
que no terreno barrento
da baixada, se via brincar.
Naquele lar,
morava uma mãe
e seus três filhos
para criar.
Mãe guerreira,
solteira,
abandonada à própria sorte,
mas uma mulher de pulso forte
que não se deixava abalar.
_João, Maria e José, seus três filhos,
eram os únicos motivos para viver
e superar as adversidades
que a vida lhe aprontara.
Àquela mulher que vivia
de uma forma diferente,
naquele mundo à minha frente.
Por coincidência acabara de chegar
de mais um de seus afazeres diários;
de deixar as suas crias;um na creche
e outros dois no pré-escolar.
Em sua humilde moradia,
que ali naquele momento nos recebia
com um sorriso angelical.
Tudo ali acomodava.
Bem organizada, limpa e arrumada,
dava gosto de olhar.
Aquela mãe solteira
tinha uma nobre profissão..
era costureira de mão cheia,
dia e noite,
se punha a cortar as peças
nas quais traçava as linhas retas, perpendiculares e curvilíneas sem parar.
Cada uma com muita maestria e habilidade,
dando formas e qualidades ao belo tecido colocado sobre a mesa de compensado, aparentemente bastante usado,
mas que ainda dava para utilizar.
Algo me chamou atenção
quando a via sentada no mocho em madeira
e passava a pedalar,
pedalava com tanto vigor a sua máquina,
a idosa Vigorelli,
já desgastada pelo tempo.
A marca, eu até conseguia,
com dificuldades, soletrar.
Naquela casinha aconchegante,
se danava a costurar
para que em tempo hábil,
as encomendas pudesse
cada uma delas entregar.
Naquela casa tão humilde,
pelas frestas das paredes
dava para sentir o ar
por elas entrar,
dando a sensação
de um clima de montanhas,
o que certamente ajudava
a evitar o suor
que o calor poderia nos causar.
Mas o que realmente
me fez impressionar;
é que: apesar de tudo,
havia muita alegria peculiar
naquela verdadeira guerreira.
Ela era sim: o homem e a mulher daquele lar.
Seu dia começava bem cedo,
tinha hora para começar;
mas não tinha hora para terminar.
Uma carga horária bastante puxada,
sem previdência para um dia
poder pensar em se aposentar.
Mas que para ela, apesar de tudo,
se sentia muito feliz assim, com muita decência.
Ali seu sonho de mulher,
seu mundo conquistado
com muita paciência,
onde para ela,
a pobreza não era obstáculos,
os espinhos da vida,
as dificuldades,
não eram motivos para reclamação.
A única certeza:
Mostrava e ensinava
que a lição aprendida
eram apenas sinônimos
de muita superação.
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