Não pretendo ter um mar só meu,
nem ser dono do sono dos astros suspensos;
pretendo que tudo que eu tenha seja teu,
até dividir contigo os quatro elementos...
O que tenho já basta para um bom viver,
ser senhor de minhas próprias ideias já é
mais do que poderia pensar em receber,
imagine ainda ter amor da cabeça aos pés...
A quem inventou as cercas inventei o derrubar,
ao outro que pôs o silêncio como tema, o cantar,
àquele que abala as convicções as pequenas certezas,
ao que rasga o tecido da carne em feiura, a beleza...
Pretendo consertar as panelas furadas, da boa comida,
reagir aos arroubos do ódio que anda armado, nas ruas,
suar com todos que sob o sol praticam a boa lida,
trazer à todos o canto macio de quem o fazia sob a lua...
A quem manda sem pensar em obedecer, a compreensão,
ao outro que inventa o cofre o aprender a dividir a alegria,
a quem pensa que o relógio do mundo é mecânico, o coração,
ao outro que lê ruínas nas páginas humanas, a salvadora poesia...
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