O coração é instável
Às vezes bate
Outras vezes é abatido
E ainda volta ao campo de batalha após aturdido

É irreverente
Às vezes quer
Às vezes não
Saber se nos faz bem quando entra em colisão

Com os desejos da mente
Aquilo que é preciso
Sem se precisar rogar por nada
Para manter um sorriso

Com o que precisa a alma
A pachorra e a harmonia
Para alimentar o espírito
E conversar com o dia

O coração é obstinado
Ressente os pecados
Quer praticar de novo
Amores que hoje evitamos

A mente cria monstros
A boca fala à toa
O corpo então pratica o mal
E o coração fica calado

Mas é quando morre alguém
Uma flecha entra no olho
Sentimental de quem estimamos
Que se manifesta e vem

Com o queixo levantado
Como quem mandou avisos
Porém dormiu sem dizer nada
Até chuviscar queixume

O coração é mudo
Não fala mas ouvimo-lo
E cremos que essa voz silenciosa
É muito mais do que estímulo

É o itinerário, o guia
Que devemos seguir
A mesma porra que nos desvia
Dos objectivos a atingir

E a sua visão ensurdecedora
Assassina a boa vontade
De repetir sentir coisas
Sem ser pela metade

O coração bate
E em cada batida faz chorar
Bate que até parte
Como pode parar

O coração tem maus instintos
É desleal e insensível
Que quando parece nos trazer o que queremos
Percebemos, no final, que escolhemos o impossível.

Outros títulos do mesmo autor