Se der, pare na esquina, dance,
passinhos miúdos, os pés trance,
deixe todo mundo de boca aberta,
desperte paixões em horas incertas...
Se der, na curva da estrada leia
em voz alta a poesia que tanto ama,
grite, se preciso, os versos que incendeia
o sangue de quem escuta com palavras em chama...
Se der, dê o que te sobra,
é uma forma de você perceber
que mais que uma cobra
o homem uma ave pode ser...
Se der, repare o erro alheio,
devolva os centavos roubados,
mostre que pode ser apagado o lado feio
de todo aquele que pensa ter o outro logrado...
Se der, no meio do supermercado cante
a canção que usualmente canta no chuveiro,
com a força do coração os males espante,
abrace os com pouco e os com muito dinheiro...
Se der, desenhe um mapa com a saída para o povo,
prenda os safardanas, liberte os encarcerados,
mostre a quem quer que seja que tudo começa com o ovo
posto em pé por quem navegou por mares sagrados...
Se der, invente um novo governo e uma nova religião,
governo onde todo mundo terá o mesmo direito,
sem deuses cruéis e que usem as regras do bom coração,
que saibam todos que é igual o que bate em cada peito...
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