Um dia voarei por sobre a praça,
por sobre a raça em estado de febre doentia,
direi a todos, ao caçado e ao que caça,
que lhes porei sobre os ombros o manto da poesia
para que adormeçam e acordem transmutados,
um em o que foi salvo dos escombros
por aquele outro que era um soldado,
o outro para ser convidado a uma refeição
onde o prato principal será o amor, salada de afeição...
Um dia andarei por onde poucos tem coragem de ir,
aos becos e vielas onde os ratos dormem seus dentes,
onde senhas magníficas guardam o ouro do porvir,
chaves de porcelana protegendo os dementes...
Um dia me desvestirei dos nobres propósitos humanos,
vencer, guardar, possuir, ter, apossar, conseguir, domar,
desenharei no corpo das nuvens os novíssimos planos,
dar, dividir, repartir, ofertar, doar, rir, abraçar, amar...
Um dia, quando não mais por aqui estiver,
darei de comer à morte à beira da morte
a sopa de sonhos em miraculosa colher;
saberemos que agir é mais do que ter sorte...
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