Escreva uma poesia para mim,
mesmo que não saiba quem eu sou,
se sou música, estrela, jasmim,
nenhuma delas acima, pai, avô...
Escreva algo que enterneça meu coração,
que desfaça esse mal-estar civilizado,
que eu possa ler em ato de contrição,
que acabe com este enfadonho fardo...
Um poesia que eu leia ao acordar,
um pouco antes do almoço em família,
de pijama, na hora de me deitar,
que me torne continente e não ilha...
Uma poesia que reduza meu colesterol,
que apazigue minha única e real intenção,
que sugira, na partitura, um sol bemol,
que me dê a lua, triste, de pires na mão...
Ao terminar de escrever envie pelo espaço
por um velho pombo-correio da felicidade,
me mande, nele, mais de mil e cem abraços,
e que seja, mesmo que de mentira,
um poema de verdade...
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