Na sesma o sol estia, torra, tisna, estila, assola, opila, recrudesce o árido.
Seca a lavra, a sebe, a parelha, o estipe, a húmus, o barro, dissipa a mata.
Na sesma o sol lasca-pedra, o esterco, o calhau, e na tapera resseca a palha.
Na sesma o sol cega, ceifa a gleba, o perau, e queima roça à fogo pela “coivara”.
Seca a bilha, roga a fé, reza a novena, ferra a boca, cala o berro, arrebenta a fome e estorrica a couraça.
Na sesma o sol subjaz do cacto o espinho, do mandacaru a flor, e na serra o poial quebrar sem racha.
No latifúndio a chuva que abunda, rega d'água no cio o grão que semeia o pasto.
É gota "santa" que faz dar a benta ração para a engorda no curral ao rebanho castro.
No latifúndio a bátega é dádiva que aduba a fécula para o festo lauto do repasto farto.
No latifúndio o diluvico farta o clã, o feudo, e do vil metal a fecunda para o jugo imposto da prata.
É dominação histórica que a séculos impera pelo grão-senhoril da terra, que berra: O Estado aqui sou Eu.
No latifúndio a “joia da coroa” é dote podre sem igualha, dívida imoral que ceva em saca o silo da safra, engorda a díade do amo oligarca, sacia a corte e o legado primitivo da casta
Na sesma o sol flagela, impõe a dor, o martírio, o claustro, e na caatinga adusta do ser a honra, ceifa vidas, ceifa sonhos e amordaça o homem.
É nó e laço que cata na peia o peão sem dó no passo, cala o berrante, o aboio, e a Asa Branca bater asas, avoar sem grão, um piar sem graça.
Na sesma o sol faz do pau Ipê cipó cavo sem polirrizo, das folhas restolho que exameia soltas na terra, e de toda a porção rasa sem chão, mão-de-obra escrava.
Na sesma o sol a pino pune na canga - cruz - que pesa como purga à rês do canzil, divisa entre cancelas vidas secas sem terras, e tange para o êxodo o “invisível” retirante.
É cão sem braço nefasto que mata a soco de côvado no abraço, e a golpe de língua a morte de antevéspera anuncia.
Na sesma o sol da sexta parte o corpo d'alma, descarna da pele os ossos e da "grei" miúda os nervos até que no juízo final o separe, jaz na cova acaba.
Entre
Pedra e cacto.
Destino e sorte.
Entre
O pó e a cal.
O sol e o sal.
Entre
A vida e a servidão,
Na sexta parte onde a forca da fome mora, o destino é a morte.
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