Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
O "MITO" DA SECA [A SEXTA PARTE]
manoel serrão da silveira lacerda

Na sesma o sol estia, torra, tisna, estila, assola, opila, recrudesce o árido.
Seca a lavra, a sebe, a parelha, o estipe, a húmus, o barro, dissipa a mata.
Na sesma o sol lasca-pedra, o esterco, o calhau, e na tapera resseca a palha.

Na sesma o sol cega, ceifa a gleba, o perau, e queima roça à fogo pela “coivara”.
Seca a bilha, roga a fé, reza a novena, ferra a boca, cala o berro, arrebenta a fome e estorrica a couraça.

Na sesma o sol subjaz do cacto o espinho, do mandacaru a flor, e na serra o poial quebrar sem racha.

No latifúndio a chuva que abunda, rega d'água no cio o grão que semeia o pasto.
É gota "santa" que faz dar a benta ração para a engorda no curral ao rebanho castro.

No latifúndio a bátega é dádiva que aduba a fécula para o festo lauto do repasto farto.

No latifúndio o diluvico farta o clã, o feudo, e do vil metal a fecunda para o jugo imposto da prata.
É dominação histórica que a séculos impera pelo grão-senhoril da terra, que berra: O Estado aqui sou Eu.

No latifúndio a “joia da coroa” é dote podre sem igualha, dívida imoral que ceva em saca o silo da safra, engorda a díade do amo oligarca, sacia a corte e o legado primitivo da casta

Na sesma o sol flagela, impõe a dor, o martírio, o claustro, e na caatinga adusta do ser a honra, ceifa vidas, ceifa sonhos e amordaça o homem.
É nó e laço que cata na peia o peão sem dó no passo, cala o berrante, o aboio, e a Asa Branca bater asas, avoar sem grão, um piar sem graça.

Na sesma o sol faz do pau Ipê cipó cavo sem polirrizo, das folhas restolho que exameia soltas na terra, e de toda a porção rasa sem chão, mão-de-obra escrava.

Na sesma o sol a pino pune na canga - cruz - que pesa como purga à rês do canzil, divisa entre cancelas vidas secas sem terras, e tange para o êxodo o “invisível” retirante.
É cão sem braço nefasto que mata a soco de côvado no abraço, e a golpe de língua a morte de antevéspera anuncia.

Na sesma o sol da sexta parte o corpo d'alma, descarna da pele os ossos e da "grei" miúda os nervos até que no juízo final o separe, jaz na cova acaba.

Entre
Pedra e cacto.
Destino e sorte.
Entre
O pó e a cal.
O sol e o sal.
Entre
A vida e a servidão,
Na sexta parte onde a forca da fome mora, o destino é a morte.



Biografia:
Número de vezes que este texto foi lido: 61638


Outros títulos do mesmo autor

Poesias LOBSHOMEM manoel serrão da silveira lacerda
Poesias NEURA TRIBAL manoel serrão da silveira lacerda
Poesias ÁLIBIS manoel serrão da silveira lacerda
Poesias APRENDIZ manoel serrão da silveira lacerda
Poesias PÓSTUMO manoel serrão da silveira lacerda
Poesias AUSCHWITZ manoel serrão da silveira lacerda
Poesias O BELISCÃO manoel serrão da silveira lacerda
Poesias A TRINDADE manoel serrão da silveira lacerda
Poesias ANFÍBIOS manoel serrão da silveira lacerda
Poesias ALMA QUÂNTICA manoel serrão da silveira lacerda

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 64.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Os Dias - Luiz Edmundo Alves 63181 Visitas
Jornada pela falha - José Raphael Daher 63124 Visitas
O Cônego ou Metafísica do Estilo - Machado de Assis 63029 Visitas
Namorados - Luiz Edmundo Alves 62956 Visitas
Negócio jurídico - Isadora Welzel 62942 Visitas
Insônia - Luiz Edmundo Alves 62930 Visitas
Viver! - Machado de Assis 62921 Visitas
A ELA - Machado de Assis 62852 Visitas
PERIGOS DA NOITE 9 - paulo ricardo azmbuja fogaça 62835 Visitas
Eu? - José Heber de Souza Aguiar 62770 Visitas

Páginas: Próxima Última