Há uma estante para cada função; no caso, para expor livros. Segundo Mallarmé “O nada que é o mundo se transforma em um livro”. Luiz Coronel revela, “... olha meus livros / na estante e indaga / o quanto os prezo...”
O livro na estante: fico alarmada quando percebo que a pessoa não retira o livro da estante, não tem curiosidade para ler as primeiras linhas, nem a orelha do livro ou sua sinopse. Então, olho com transparência e sensibilidade ao desejar que a situação mude e a pessoa “aprenda” a conciliar o livro com a sua realidade. Nas palavras de Octavio Paz, “A leitura é uma interpretação, uma variação e nessa variação o texto se realiza, repete – e absorve a variação...”
Procuro entender o não pegar o livro na estante; o não ter tempo para ler e, ainda ouvir: “Ler? Agora não, estou de férias!”. Será que não entendem como os livros nos fazem viajar no tempo e, ao mesmo tempo, mostram como a realidade pode ser bem mais interessante?
Quando questiono, estou pensando que, pelo menos, a pessoa poderia olhar para a estante e verificar o que lhe atrai; assim, ter a oportunidade de refletir sobre o viver e, a partir daí, fazer a si perguntas que só ela poderá responder. As respostas são o novo olhar sobre o que descobrir. É o efeito mais próximo da satisfação pessoal e da diferença entre ler e não ler. Luiz Coronel alerta, “As faíscas do olhar / acendera o brasileiro. / Palavras incandescentes / despem a imaginação...”
Quem fracassa na arte de ler é obrigado a repensar o acúmulo de atividades diárias. Passa a vida aprendendo várias coisas para a sua sobrevivência pessoal e profissional. Sei como se sentiria bem se descobrisse como o prazer da leitura o permitiria vencer a solidão. Pensamentos e emoções a afetam e, para se conscientizar em qual situação se encontra, precisa da leitura para aprender e evoluir. Enriquecer a vida, com que as possibilidades de aprender aumentam; quanto mais sabe, mais quer saber para solucionar suas opções diárias, com atitudes que melhor norteiam o cotidiano, afastando a vida estressante e fazendo como Newton ensinou, “toda ação implica uma reação”, um (re)posicionamento na vida. Como em Gilberto Cunha nos ensaios, Qual é o Tamanho da Biblioteca de Babel? e A Nova Biblioteca de Babel, em que ele demonstra, na concepção de Borges, que o universo estaria contido em única biblioteca.
Agora, imagine como seria viver num mundo em que todos lessem? Ou tivessem o prazer de aprender o valor devido das ações? Hoje, encontro como ação estantes de livros doadas pelos autores, nas ruas, praças e outros espaços públicos – aberto a todos – em várias cidades. A pessoa escolhe o livro na estante e o leva para casa (sem precisar pagar). Depois de lido, devolve-o à estante, ou o repassa a um novo leitor. Ritmos modernos que oportunizam a leitura ou, pelo menos, para olhar a estante e buscar a experimentação de novas formas de vida; de espalhar o saber, que aprender é viver aliado nas cores intensas da vida. Jaime Vaz Brasil declara, “Luiz Coronel tem obra. E que obra. Não chega de mãos vazias à melhor das estantes do mundo. É um inigualável mágico das imagens, um artesão criterioso das metáforas. O bom gosto é sua marca registrada”.
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