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Redes sociais: domine-as, ou caia nelas
09 de fevereiro de 2017
Ricardo de Lemos Rachman

O tempo, verdadeira ficção criada pelo homem, é a ferramenta que visa à medida da vida há milênios. Entretanto, tal ferramenta é retratada nos presentes dias de maneira cada vez mais escassa, sendo uma das maiores reclamações do cidadão do século XXI. Curiosamente, apesar da constante apelação contra a ausência de tempo, os indivíduos o tem desperdiçado mais e mais, de maneira a não perceber o quanto se ausentaram de suas próprias vidas, quase “automaticamente”. E é neste papel que atuam as redes sociais, de modo subliminar e quase imperceptível, causando assim o vício, nada obstante as facilidades e evolução na comunicação que trouxeram.

Para aqueles que tentam ser “senhores de seu próprio tempo” - até o ponto permitido ao ser humano –, tudo pode ruir através de uma simples – porém extremamente complexa – rede social. O assunto se encontra tão alarmante, que foi criado até mesmo um programa de combate à dependência de Internet do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (IPq-HCUSP). No site, é explicado o que é o vício, sendo oferecidos tratamentos para combate-lo e preveni-lo. Assim, já são tratados os dependentes “químicos” da internet, essa química cerebral ainda tão pouco conhecida, criada pelo próprio indivíduo de forma endógena, através de ferramentas virtuais, pelo chamado mecanismo de recompensa cerebral (http://www.dependenciadeinternet.com.br/).

Há um fator comprovado de que redes sociais são empresas (definição de empresa: atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens e serviços – artigo 966 do Código Civil) que pretendem que o indivíduo passe boa parte de seu tempo imersas na sua utilização, visando com isso ao lucro. Segundo o axioma capitalista que assevera ser tempo o mesmo que dinheiro, tais redes lucram ao manter seus indivíduos presos em suas redes o maior tempo possível, sendo que isso é realizado através de algoritmos – fórmulas que resultam em processos automáticos – visando o que os leitores têm de mais precioso: o tempo. A rede social compra muito barato a atenção do navegante, com propagandas e algoritmos feitos para angariar o maior tempo possível, mas, em contrapartida, nada oferecendo em troca (pelo menos, de maneira concreta).

Prosseguindo neste sentido, uma vez atingidos patamares de saúde pública de forma sorrateira e subliminar aos incautos, deveriam as redes sociais apresentarem ao menos nota aos usuários ou declaração de responsabilidade para que os mesmos procedam o uso responsável da ferramenta.

O algoritmo é feito de forma sutil, inteligente: você recebe as famosas curtidas (manifestação de aprovação social, que ativa a área de recompensa de seu cérebro). No entanto, as notificações não são separadas entre curtidas ou movimentações gerais, o que faz você checar as atualizações periodicamente, visando aferir suas curtidas ou comentários à sua pessoa. E não, isso não é obra do acaso. É uma parte dos algoritmos calculada exatamente para prender a atenção do usuário. Além disso, as propagandas são mostradas com base no gosto do indivíduo, através daquilo que apreciou na internet, utilizando assim o fomento ao vício de compras online. Os usuários mandam convites de jogos para interagir entre si (jogos estes que aplicam capital na rede social); há um chat para aproximar os usuários no mesmo programa, os quais começam por dar acesso à rede do microfone do celular e câmera, bem como à lista de contatos e e-mails, estimulando o usuário a se cadastrar em um aplicativo sempre com seu login preferido (do e-mail ou Facebook), dando acesso de seus contatos à plataforma, e mais: com base em um clique, o usuário vai de um perfil a outro, de maneira a não perceber o momento em que se perdeu no caminho, ou qual foi o primeiro clique, ou o que está fazendo ali há horas, de maneira a ter desperdiçado o precioso tempo que lhe restava. Há ainda o exemplo da veiculação facilitava de notícias falsas, as quais se espalham como pragas, de maneira a fazer o indivíduo perder seu tempo, inevitavelmente, muitas vezes até desinformando seus semelhantes (a análise e veiculação da contrainformação requer o tempo do usuário).

Visando combater a utilização obscura de tais algoritmos, o ex-funcionário da Apple e Google Tristan Harris criou uma startup denominada Time Well Spent (Tempo Bem Gasto), a qual visa ao combate de vícios em redes sociais e gadgets eletrônicos, com proposta totalmente oposta àquela de seus ex-empregadores:

“O algoritmo que guia uma rede social pode ser configurado de várias formas. Por exemplo, em vez de privilegiar fofocas e conversas banais para aumentar o número de acessos do site, poderia dar maior destaque a notícias de sites críveis, ao contato entre amigos de longa data e por aí vai.”

Recomenda o dono da startup como medidas profiláticas o ato de silenciar as notificações das redes sociais e chats, bem como colocar os ícones dos mesmos em tela diferente da tela principal, de preferência mais escondidos, visando assim fomentar que o usuário faça uma escolha consciente de acesso, ao invés de clicar a toda hora sem limites em seus aplicativos de redes sociais.

Para garantir mais aprovação de seu público, muitos usuários de redes sociais passam a oferecer sua imagem – muitas vezes até mesmo sem preço, em troca de aprovação social – de maneira a publicarem fotos sensuais ou ostentarem a realidade tão almejada por outrem. Para estimular tais atos, existem ainda os YouTubers, que são aqueles que trabalham postando vídeos, de forma profissional ou visando tal profissão, o que – garantem – confere boas chances de “sucesso” perante o público. Mas, a qual preço? Essa reflexão se faz pertinente, uma vez que há um alerta global determinando que as pessoas acordem de seu torpor internauta, pois os desavisados passarão – literalmente – anos na internet, sendo que hodiernamente, é até difícil separar-se o tempo com internet ou sem esta, afinal, vivemos conectados. Tal fato passa a se tornar ainda mais desafiador aos adolescentes e jovens em período de formação, uma vez que a atenção escolar ou universitária é dividida todo o tempo com as redes sociais.

Entretanto, apesar de difícil dissociar o tempo na internet e fora dela, essa delimitação se faz essencial. Isto, pois tal conexão atrapalha de forma grave nosso sistema de retenção de informações, atenção e foco; afinal, com o foco dividido entre diversas manchetes, não há espaço para a criatividade, nem tampouco para retenção de memória de forma otimizada, uma vez que a atenção se encontra dividida, sendo que é comprovado que para otimizar o estado criativo, deverá a atenção humana estar relaxada, introspectiva; enquanto que para concentração, deverá estar una e sem fragmentações. Esse estado mental anômalo de fragmentação da atenção - atenção dividida - é extremamente prejudicial para resultados de qualquer ordem prática (GOLEMAN, Daniel. Foco – A atenção e seu papel fundamental para o sucesso, Editora Objetiva).

É uma competição desleal. Imaginemos o inventor de objetos revolucionários como a lâmpada, que registrou 2.332 patentes em seu nome, Thomas Alva Edison, tendo que competir entre a necessidade de se trancar em seu laboratório sem nenhuma comunicação e checar suas redes sociais. Ou ser bombardeado com ofertas irrecusáveis em sua caixa de entrada no e-mail, viagens espetaculares em promoção, “amigos virtuais” desejosos de sua amizade (o que de per si, representa um contrassenso), políticos e pessoas influentes curtindo suas postagens no Facebook e comentando em suas fotos captadas no melhor ângulo (leia-se: mais são tiradas as fotos do que vivenciados os momentos). É, talvez o inventor não tivesse a mínima chance.

Esse é o patamar no qual nos encontramos. Nosso tempo é disputado por centenas de objetos diferentes, de maneira a possibilitar um viver fragmentado, onde se está em diversos locais ao mesmo tempo – ora, como se isso fosse realmente possível. Isto é: deixa-se de viver de fato os momentos, na ânsia de acompanhar tudo e todos e não perder nada. Ocorre que não há como estar pleno em dois locais ao mesmo tempo.

Notando que é possível vigiar quase tudo de um indivíduo: locais que frequenta, opções políticas, gostos de todos os tipos, pessoas que relaciona, dentre outras opções, a internet se transformou até mesmo em ferramenta para barrar a entrada de imigrantes por alguns países, que autorizaram a inspeção da movimentação do fluxo dos usuários (dentre as nações que adotaram tal medida, incluem-se os Estados Unidos da América e Suíça).

Mas dentre os problemas intrínsecos, o mais subliminar e sorrateiro é o da não seletividade do tempo, de forma a atrair o usuário a gastar seu tempo sem perceber, de maneira praticamente inútil e alcoviteira. É preciso proceder a conscientização das crianças nas escolas e dentro de casa. É necessário controla-las para não serem controladas pelas redes sociais. É imprescindível fazer com que os jovens tomem de volta o controle de seu tempo, e que passem seus momentos ao ar livre ao invés de ficares imersos em teclados de celular para conversas práticas e virtuais.

Enfim, é preciso voltar à vida una e que se dá através de momentos indivisíveis, vida esta que existia para grande parte dos cidadãos até meados dos anos 90. Em suma, ao internauta, cabe o alerta: domine a rede, ou caia nela.


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Artigos Redes sociais: domine-as, ou caia nelas Ricardo de Lemos Rachman
Poesias A travessia solitária no oceano Ricardo de Lemos Rachman
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