Meu poema nunca usou terno.
Nem no inverno.
Sempre o vi nu.
Buscando o Norte e o Sul.
Pretendia que servisse o exército.
Não queria o medo por perto.
Andou descalço sobre brasas em fogo.
Sempre jogou o jogo.
Usou faca para descascar palavras.
As que fugiam, as que vagavam.
Saltou em três ou quatro abismos.
Amava os números primos.
Deitava distância de seus parentes.
Contos, romances, hai-kais, repentes.
Fingiu-se de morto para ser enterrado.
Cavocou, cavocou, saiu do outro lado.
Da morte nunca fez desfeita.
Viva, assim ela foi feita.
O perigo o visitava sempre.
E lhe mostrava os dentes.
Montou a cavalo e sumiu.
Nunca ninguém mais o viu.
Hoje voltou à minha casa.
A alma em brasa.
Pediu para entrar.
Para se sentar.
Para se desmanchar em lágrimas.
Nem perguntei se era tática.
Me mostrou suas palavras rotas.
Gastas, puídas, tortas.
O abracei, o trouxe para dentro de mim.
Nos olhamos nos olhos.
Fim.
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