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SE QUISER FAZER FARRA, META O DEDO NO NARIZ
carlos vieira

Recado de uma irmã preocupada
Fazer caminhada é bom. Na companhia de alguém “gente boa” é muito bom. Mas também é bom caminhar com vc mesmo. Sozinho vc medita sobre a sua vida, sobre a família, sobre os vizinhos, enfim, faz suas conjecturas sem medo de debates acirrados. Ou não. Às vezes vc discute com vc mesmo e se contradiz. É muito bom.
Pois bem. Estava eu caminhado com minha irmã. Começamos calados e, progressivamente, iniciamos um diálogo. Ela falando muito mais do que eu, claro. Senão não seria ELA.
Falamos do que comemos de manhã, dos benefícios dos alimentos. Falamos dos filhos e dos netos até começarmos a falar sobre os parentes distantes que não víamos há uns trinta anos. Graças ao Facebook conseguimos nos aproximar virtualmente de parentes e amigos de longas datas.
Apesar de pessoas sentirem medo de se viciar em Facebook ou outras redes sociais, acho que é uma ferramenta fantástica. Sempre gostei de escrever cartas e o Face potencializou essa minha prática um milhão de vezes mais. É curtir a emoção da prática epistolar, sem a ansiedade da espera pelo Correios. Claro que perdemos um pouco do romantismo do encontro com o carteiro. Esperar o carteiro era como esperar a visita do médico de família. O Carteiro era conhecido de todos. Existia também a expectativa de receber uma novidade. O mistério que o envelope lacrado representava. Os vizinhos ficavam mortos de curiosidade. “Notícia boa ou ruim?” – perguntavam.
Voltemos à caminhada matinal.
Antes que minha irmã ficasse ofegante e com dificuldades de falar durante umas das subidas do parque, perguntei-lhe sobre o filho de um primo. Um primo de segundo grau.
Primo de segundo grau soa estranho. E como o primo é quase um irmão, preferimos chamar seus filhos de sobrinhos. E eles tb preferem ser chamados assim. Então falaremos sobre esse sobrinho. Perguntei:
- E aí, mana, o Rui tá muito bem.
- Vou te dizer uma coisa – ela me respondeu. Ele se deu muito bem, mas sofreu com o pão amassado pelo demônio do sexto céu.
“Ele tinha uma namorada. Uma assessora de Ministro lá de Brasília. Se apaixonou. A moça dava tudo pra ele. Ficou grávida, mas mandou tirar.
“Depois que ela abortou, deu um pé-na-bunda do Rui. Foi difícil pra ele se levantar.
“Entrou numa tristeza. Foi pra Europa gastar uns dólar que tinha guardado.
“Quando ele voltou, voltou resolvido e disse que não queria mais saber de mulher. A mãe dele falou que “tudo bem”, mas que ele devia procurar um psicólogo pra tentar a cura gay.
“Ele procurou um psicólogo, meio que a contra gosto, mas como ia morar na casa da mãe, obedeceu.
“Ficou lindo, se tratou, fez umas plásticas no nariz e aumentou os lábios, malhou o corpo. A terapia deu certo e ele tá namorando uma garota novamente.”
- E a paixão do Ministério?
- Paixão do Ministério? Parece que esqueceu! Mas olha, mano: tô te contando esta história, mas não é pra vc espalhar por aí não. Não é pra contar nem pra sua mulher. Sei que vc gosta de fazer uma farra com o que a gente te diz.
“Se quiser fazer farra, meta o dedo no nariz e farreie com as gomas das ventas!"
- Gomas das ventas?
- Melecas, meu irmão. Farreie com suas melecas!” – finalizou veementemente com um certo tom ameaçador, como sempre fez nas nossas discussões, abusando da posição de irmã mais velha, mas desejando lá no fundo, bem no fundinho, que eu escrevesse e publicasse essa história no meu blog.
Assim eu fiz e espero que ela goste, senão levarei uns cascudos apesar dos meus cinquenta e poucos anos de idade.


Biografia:
Vida de guri é assim.
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