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Feliz aniversário
Jaqueline Brito Rocha

Feliz aniversário

     Eu já conhecia o danadinho há alguns anos. Danadinho? Pra que falar assim? O que é ser danado? Ele era um jovem menino, ou menino jovem, ou jovem, ou simplesmente, um menino. Acho que é isso que ele é. E que muitos deveriam ser. Mas isto não importa agora. O caso é que havia alguém muito especial que fazia aniversário. Era o nosso menino. Nós sabíamos daquela data única, marcante. E ele, tão ele, saberia de nossas intenções em agradá-lo?Neste dia, eu teria a certeza plena da sua meninice pura, frágil, pungente.      
Quando entrei na sala para a minha aula trivial que tento fazer especial fingi, claro! que seria mais uma aula.Fingi que somente entraria para fazer minha considerações de costume.Calmamente, chamaria a atenção de um ou outro por estarem dispersos(Ah...os jovens, tão dispersos e tão acesos...mas isso dá outra história)enfim,tudo ocorreria dentro da normalidade esperada.Cantaríamos logo os parabéns ou esperaríamos alguns instantes?
Entretanto, ele não queria entrar na sala. Estava esquivo, cismado ao quadrado. Tentei convencê-lo a entrar logo, pois iria ter uma atividade avaliativa (como se isso fosse um argumento infalível...) Que nada! Só sabia olhar pra baixo e me encarar seria assombroso, grave. Deixei-o. Haveria cinqüenta minutos para ele mudar de idéia. Por que ele ficaria do lado de fora da sala, o corredor vazio, sem os risos e os gestos adolescentes. O que ele temeria?
As amigas dele me informaram,baixinho, sobre a data fatídica. Confessei, também no mesmo tom, que já havia sido avisada. Elas não entendiam o porquê de o amigão não querer entrar, pois no seu cotidiano, ele era sempre o sorriso, a tirada, a resenha. ”Rir é contagioso” ele dizia e eu,como amo sorrir,concordava e a sessão alegria explodia e todo mundo ria, ria, ria, ria e já nem víamos que ali... Era uma sala de aula!E então, todos voltavam a assumir seus papéis no espetáculo escolar, e colocávamos as máscaras para melhor representarmos e abafávamos, por alguns instantes, essa grande comunhão que nos ata, indiscutivelmente, na trama da vida.
No entanto, meu olhar não se distraiu e o viu, sim!Ele entrou sutil, ”ela não vai me ver”. Opa, fui ligeira, fui mesmo e numa força de Hércules, puxei-o pelo braço e disse como num tribunal: ”Você não vai sair, vai ficar porque hoje tem alguém fazendo aniversário.”
Enquanto cantávamos, ele sentou-se e abaixou a cabeça. Mas nem todos viram o efeito de nossas tão desafinadas vozes Quando terminamos o hino,fomos abraçá-lo e quando ele se ergueu ,lágrimas banhavam face olhos coração alunos eu vida.Creio que era isto o seu temor.Dar-lhe um abraço e dizer “Feliz Aniversário” tinha o som do paraíso,era um coral de encantamento,um bálsamo,um arco-íris, um salto de acrobata,um aroma de flor e pérola. Vejo outros chorarem também, inclusive um rapazinho, na aurora do sentir. Chorar também parece ser contagioso.
Termina a aula. Saio da sala encantada. Permaneço na sala. No encanto não encontro palavras. As aulas restantes deste dia foram tediosas. Tinha o choro nas mãos e as garras afiadas do Amor mandaram-me um bilhete secreto dizendo-me que, apesar de tudo, a vida valia a pena.


Vitória da Conquista, 25 de maio de 2007.


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