Rastro
Por um longo instante, minha amiga e seus gestos permaneceram em minha mente. Sua busca, produzia um eco que não se calava.Era como lâmina desesperada;grito abafado;uma dor de existir.Tive vontade de abraçá-la.Mas, havia outros que a acompanhavam; ainda que ela não soubesse, e disso eu estava cada vez mais certa. Ela procurava o amor em cada rosto, em cada sorriso e até mesmo em cada pose das fotografias que ali olhava parecia-lhe a ela dirigida e assim, ansiava em ser especial para alguém.Ela mirava o longe;só olhava pra fora e se esquecia ,a cada momento, de si.
_Parece que falta um pedaço de mim.-Tão jovem e o olhar tão magoado. Eu senti por ter de repetir-lhe palavras que já tinha dito.Embora eu não tivesse achado nenhuma acolhida anteriormente, quem sabe agora ?.
_Menino, não lhe falta nada. Você é inteiro. Não somos metades de ninguém. Tentava ser doce e firme.Fácil não era.Porém,preciso.
_Você não entende como eu me sinto.
_Mais do que você pensa. Só que você não está bem. E ainda a quer do seu lado?
_Com ela vai ser diferente.
_Você acha que sua felicidade depende só dela?
_Depende sim.
_Eu tenho lhe achado muito pra baixo. Goste primeiro de você.
_Lá vem esse papo de novo!Não quero te ouvir.
_Está no seu direito.
E saiu mesmo, dizendo que eu o chateava com aquela conversa toda. Tudo bem. Nem sempre os aprendizes são humildes. Quem me dera ao menos uma vez que um deles, um dia, pudesse dizer, àquela pessoa especial algo como:”Olha, eu não quero te pedir beijos, nem abraços, nem carícias,nem palavras que me afaguem e me façam perder o chão.O que você me deu não se traduz em gestos. Não há desespero, porque teu rastro de amor está comigo e assim, você me acompanha por onde quer que eu vá.E nessa ausência tão presente, nada me resta a não ser a alegria, pura, de ardentemente desejar o Bem”.
Resplandece um luar dourado e imenso que nos convida àqueles vôos que só o coração é capaz. “E hoje em dia como é que se diz eu te amo”diz certa música que sempre se repete baixinho e ainda me surpreende.Porém isso não importa agora.Há questões muito mais urgentes, que nos dizem respeito. Nem tudo deveríamos dizer, muito mais deveríamos sentir e nos importar, realmente.
_Você está triste minha querida, o que houve?
_Deve tá sofrendo daquele mal...-
Com um gesto, ela tenta me ludibriar... e me dizer que não está com o cotovelo dolorido. Mas é inútil. Seu olhar não tem brilho, a sua voz quase sumida completa sua expressão turva, pouco nítida.
_Pare com isso.. Não negue o que há de mais humano em você.
_Nem fale essas coisas bonitas, senão ela chora...
_Se ela quiser, eu não me importo. Ou será que não se pode nem chorar mais?
Seu sorriso voltava a cintilar. De repente, já na sua costumeira zoada, ela me agradece. Tinha de fechar este parêntese, afinal, em breve, iriam todos aprender coisas importantíssimas e não mais haveria lugar para se falar dessas tolices(que nos fazem melhores, decerto).
Inverno de 2007
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