Não há nada mais escuro que o sono,
que me dorme enquanto permanece acordado,
abre minha vida lunar como se fosse em tomos,
avança sobre portas sem cadeados,
por dentro sou a floresta de nervos
e a joia preciosa chamada medo
dança sobre segredos...
Não há nada mais devastador
do que o caule sem flor,
pétalas desfalecidas no prato do restaurante,
nada mais inquieto do que um corredor
sem quadros ou carrancas dançantes...
Nada mais estranho do que o pulmão sem respirar,
o coração sem bater,
a boca sem falar,
o olho sem ver,
o ouvido sem nada escutar...
Nada mais claustrofóbico
do que, num vidro, o micróbio
sendo estudado pelo laboratório,
o macaco para experiências,
nada mais horripilante
do que crer em religiões
e não na ciência...
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